Uma Paixão Simples
Título Original
Passion Simple
Realizado por
Elenco
Sinopse
Críticas Ípsilon
Uma mulher à espera
Como filmar isto, uma mulher permanentemente à espera? Danielle Arbid responde de forma quase literal: fazendo um filme que parece funcionar ao ralenti.
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Uma Paixão Simples
Fernando Oliveira
É um filme apenas sobre uma mulher que espera, uma mulher que anseia pelo regresso do amante. “A partir do mês de Setembro do ano passado, não fiz mais nada a não ser esperar um homem: esperar que ele me telefonasse e viesse a minha casa”, é com esta frase que começa o filme, e é também assim que começa o livro homónimo de Annie Ernaux em que o filme se baseia. A mulher é Hélène, professora em Paris, divorciada, vive com o filho; e espera, espera pelo seu amante russo, é uma obsessão que tomou conta daquela mulher. E enquanto espera, recorda os seus encontros com aquele homem, funcionário da embaixada russa, personagem quase inexistente, apenas definido pelo “olhar” de Hélène. Assim o que Danielle Arbid no quer contar em “Uma paixão simples” é esse olhar de Hélène, tanto enquanto espera, mas também na encenação das cenas de sexo entre os dois; o desejo de Hélène é um desejo de sexo, não exige de Aleksandr qualquer reacção romântica ou afectiva, o que torna a dependência daquela mulher simultaneamente numa libertação através do sexo e numa prisão viciante. E como é que pode mostrar em Cinema a cosa mentale que é uma mulher à espera: tornando esse estremecimento, essa angústia, numa deambulação narrativa que coloca a “alma” da personagem e o erotismo num plano que roça o onírico, pondo a outra parte da vida da personagem num outro plano, como se fosse um filme a passar ao seu redor. Um filme pontuado por canções que muito nos dizem sobre essa espera, sobre essa mulher. É um filme belíssimo sobre a diferença radical, e muitas vezes trágica, que há entre os olhares da mulher e do homem sobre isso mesmo: a complexa relação feminino/masculino, e violência sentimental resultante. Sendo este filme sobre o olhar de uma mulher, um olhar sem contra-campo, é espantosa a interpretação de Laetitia Dosch, o que procuram os olhares da sua personagem, os gestos, os silêncios, o ofegar, a perturbação que a encharca. É nela que Arbid se concentra, é dela que vem a inquietação que nos confunde.
2 estrelas
José Miguel Costa
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