4 estrelas
JOSÉ MIGUEL COSTA
De acordo com o realizador, Roy Andersson, este filme "consiste numa série de histórias quotidianas e fora do normal que retratam a nossa existência em toda a sua grandeza e pequenez, beleza e tragédia, exagero e tristeza – com uma visão panorâmica, como se fossem contadas por um pássaro a reflectir sobre a condição humana”. Refira-se, ainda, que ele considera que "a humanidade resume-se a um poço de apatia e vive num universo trágico-cómico do qual não há retorno". <br />É importante ter em consideração estas premissas base antes de entrar na sala de cinema, pois, por certo, não irão percepcionar nada disto (digo eu ...), na medida em que serão confrontados com uma narrativa fragmentada e desconexa/sem sentido, dominada pelo surreal e absurdo (de tal modo que no final do visionamento, possivelmente, ficarão com a sensação de ter assistido a uma visão algo Kafkiana da "existência humana" - o que, no fundo, deveria ser a intenção do realizador). <br /> <br />Após a leitura destas linhas, e se é que há alguém que liga ao que escrevo, já devem estar a pensar "últimos a ir ver este filme!". Se for essa a vossa linha de pensamento, deixem que vos diga (alto e bom som) que "fazem muito mal!". De facto, esta película precisamente pelas características indicadas, bem como pelo facto de ser "polvilhada por um humor ácido/non sense e ser detentora de uma beleza estética (muito teatral) notável, acaba por transformar-se num "universo" tremendamente hilariante e, simultaneamente, melancólico (povoado por personagens que "não lembrariam nem ao menino Jesus"), pelo que, não poucas vezes, damos por nós a rir-nos do "incompreensível" (mais que não seja, pela falta de conexão entre o "entendimento" e o acontecimento).
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