Nunca mais vão ter coragem de ligarem uma televisão no botão
Pedro Maia
Não sou rapaz para ser complacente com os filmes, quando muito sou tendencioso porque gosto de um determinado tipo de filme, mas aí aviso logo ("Matrix", por exemplo, até podia ser filmado com as cordas a verem-se e eu continuaria a achar que era o melhor filme de sempre). Lembro-me de ver "Ringu" e de com esse filme ter ficado com a certeza de que grande parte do futuro do cinema viria destas adaptações de filmes japoneses, dado que a nível de "storytelling" são muito mais criativos do que os americanos (Bem... não é preciso pensar em "Oldboy", basta pensar em "The Grudge"). Como descrever "The Ring 2"? Visualmente incrível, engenharia de som perfeita, podemos ver o filme de olhos fechados que saltámos na mesma da cadeira, e compulsivamente hipnótico no sentido em que a história nos vicia do princípio ao fim.<BR/><BR/>Lembro-me daquele regresso à Caana e achá-lo um final forçado, comparado com a versão japonesa. Na sequela não corremos esse risco, especialmente porque o tema da possessão é levado ao extremo, de forma que a "posse" do filho de Rachel é consubstancial a todos os acontecimentos.<BR/><BR/>Penso que para compreender este filme é preciso passar os olhos antes por "Dark Water". É neste filme que Hideo Nakata explora de forma díspar a sua mecânica de construir o bizarro e o terror, com espaços transplantados e cenas de refocagem que pretendem substituir o corte simples de imagem, usado até à exaustão no primeiro filme. Acho que para ver este filme é preciso muito mais coragem do que para ver o primeiro, por isso tenham muito cuidadinho, tá bem? Tipo... não há passeios e tal, viagenzitas para descobrir o enigma.<BR/><BR/>Grande parte do filme passa-se dentro de um apartamento cheio de gente morta por um fantasma furioso, portanto... não vão ver este filme com aquele espírito "eu aguento, eu sou forte" para depois passarem 99 por cento do tempo com os olhos fechados. A partir do primeiro homicídio a coisa não vai acalmar, não vai haver uma "pit stop" para os meninos destaparem os olhos às meninas, é uma viagem sem retorno, um filme para fãs a sério, não o vão ver se forem apenas curiosos do género do terror, tá bem? Tão a ver? Eu são tão bom rapaz, sempre a avisar e a prevenir ataques cardíacos ; )))))<BR/><BR/>("spoilers" ahead, se não quiserem ficar a saber mais sobre o filme, párem de ler e até à próxima)<BR/>Samara tem um problema: é boa rapariga mas não pode continuar a matar indefinidamente pessoas pela televisão. De cada vez que mata alguém, Samara torna-se mais fraca e precisa de um corpinho onde repousar a sua alma exausta de... bem... de fazer aquelas coisas desagradáveis às pessoas, que vimos no primeiro filme.<BR/><BR/>Portanto, o plano de Samara é relativamente simples: o "I see dead people kid" do primeiro filme tem de dar o corpinho ao manifesto e deixar o espírito entrar. Claro que para isto acontecer têm de confluir um conjunto de factores, como o miúdo passar pelas mesmas coisas que Samara, logo tem de ser levado para a cidade onde tudo começou. E lá começa tudo outra vez. Libertada do poco, Samara agora pode atravassar livremente para estas bandas de cá, já não há aquela chatice dos sete dias, e Samara, rapariga moderna, já mata pelo telemóvel.<BR/><BR/>Rachel é apanhada por esta vontade, a principio pensando que se trata apenas de mau uso da cassete por parte de alguém, mas rapidamente conclui (a cena da morte de Sissy Spacek quanto a mim é a mais bem trabalhada do cinema de terror desde que Brad Pitt meteu uma bala na cabeça de Kevin Spacey quando descobriu que ele era gay) que não é disso que se trata, além de ficar privada do filho porque lhe atribuem os maus tratos que as aparições de Samara lhe deixam.<BR/><BR/>A investigação que traz Rachel a Seattle desta vez é quase teatral, é uma revisitação de espaços e um pouco a mesma dúplice procura de, separando as personagens centrais (o colega dela de redacção), conseguir efeitos assustadores a dobrar, apanahndo-nos desprevenidos recortando as cenas de momentos simultâneos. A ver, a ver, a ver, a ver, a ver, a ver, a ver, a ver, a ver, a ver, a ver, a ver, a ver ;))))))))))))))))
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