Jeff Nichols gosta de nos contar histórias sobre aquela América rural, cheia de esquisitices, conservadora e fundamentalista, avessa a qualquer perversão da ideia “Deus, pátria e família”. E conta-as introduzindo elementos que causam perturbações, que corroem.

É nesta América que nos é contada a história “The Bikeriders”, mas Nichols é ainda mais subversivo: pega numa das mais icónicas formas de rebeldia da América desde os anos cinquenta até metade dos anos setenta, os anos do rock'n'roll, o culto das motas e os gangues de motoqueiros, e mostra-os não como jovens que desafiam o sistema, mas como grupos de gente que se sentem deixados para trás, e querem pertencer a algo, homens desempregados ou mão-de-obra barata que nas viagens de mota, nos encontros regados a álcool, procuram dar algum sentido à sua vida. Desafiam as regras, mas são tão racistas e sexistas como a sociedade onde mais ou menos habitam. Tornam-se marginais porque a violência vai substituindo o hedonismo. Os desintegrados que vão regressando do Vietname só conhecem essa violência.

Mas o filme interessa-se pouco pelas máquinas, quer saber muito mais do que vai na “alma” daqueles homens, quer literalmente “escutá-los”, vemos e ouvimos muitas conversas. O filme é baseado num livro de fotografias de Danny Lyon, que acompanhou os Outlaws (no filme chamados “Vandals”) e em duas entrevistas, conversas que acompanhamos, que fez a Kathy, companheira de Benny, um dos membros do grupo.

Se Benny (Austin Butler) é um personagem que vem de lá detrás, doutros filmes, e se calhar por isso algo “vazio”, uma imagem; Kathy (interpretação magnifica de Jodie Comer), é uma mulher magoada, triste porque não conseguir “agarrar” Benny, por não fazer parte, aterrorizada pelo medo de o perder, uma personagem absolutamente comovente; como o é Johnny (Tom Hardy), o líder do grupo, uma violência contida, mas estilhaçado por dentro, à beira de desistir, e que quando percebe que o mundo consegue ser muito mais violento do que ele, é tarde demais.

Acima de tudo são Kathy e Johnny o que mais me perturba no filme. Nichols conta-nos tudo isto num ritmo brando, parece aquele atordoamento causado pela embriaguez, num tempo suspenso porque o “resto” do mundo passa ao lado das personagens e passa ao lado do filme. Pouco a pouco a América apercebe-se que cresceu, e cresce, de forma violenta. Bastante interessante.

Houve um tempo em que o Dabis era temido por todos em Chicago. Líder dos Super Vandals, o gangue mais perigoso e influente da região. Ele controlava as actividades do submundo com fogante na mão. Mas, como muitos líderes de gangues, o poder acabou subindo à cabeça de Dabis. Ele começou a agir cada vez mais impulsivamente, atraindo a atenção da polícia e de outros grupos rivais.

As disputas pelo controle do território intensificaram-se, e a violência nas ruas aumentou. Dabis percebeu que o declínio dos Super Vandals era iminente. Os seus seguidores estavam sendo presos ou mortos, e a lealdade que antes o mantinha no topo estava aos poucos a desfazer-se. Ele viu amigos afastarem-se, inimigos fortalecendo-se e própria vida a correr perigo.

Decidido a mudar de vida, Dabis tentou passar a pasta e mais tarde desfazer o gangue que ele mesmo criou, mas foi nessa altura que rebentou a Operação Bikeriano. Aí foi o fim da macacada!