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Sophie Scholl - Os Últimos Dias

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Drama, Guerra 117 min 2005 M/12 26/05/2005 ALE

Título Original

Sophie Scholl - Die letzten Tage

Sinopse

Na primavera de 1943, Sophie Scholl e o irmão Hans são presos por distribuírem panfletos contra a ideologia nazi na Universidade de Munique. Sophie tenta com unhas e dentes salvar o irmão e os outros resistentes, mesmo sabendo que todos arriscam a pena de morte. Durante o julgamento, bate-se heroicamente, mas todos acabam condenados à pena máxima. No entanto, a história dará, obviamente, razão a Sophie e, depois da sua condenação, serão as cabeças dos nazis a rolar. O filme recebeu os prémios de Melhor Actriz e Melhor Realizador no Festival de Berlim de 2005. Foi também nomeado para um Óscar, na categoria de Melhor Filme Estrangeiro.

PÚBLICO

Críticas Ípsilon

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Mário Jorge Torres

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Kathleen Gomes

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Críticas dos leitores

Rebeldes com causa

Gonçalo Sá - http://gonn1000.blogspot.com, http://cine7.blogspot.com

Nos últimos anos, filmes como "O Pianista", de Roman Polanski, ou "A Queda - Hitler e o Fim do Terceiro Reich", de Oliver Hirschbiegel, têm reavivado a memória do Holocausto, propondo diversas perspectivas sobre uma das catástrofes mais marcantes do século XX. "Sophie Scholl – Os Últimos Dias" ("Sophie Scholl - Die letzten Tage"), de Marc Rothemund, volta a centrar-se nessa temática, mais propriamente nas peripécias do movimento Rosa Branca (Weisse Rose), implementado por um grupo de jovens alemães que reagiram, sem recorrer à violência, às medidas nazistas que se disseminaram pela Alemanha nos anos 40.<BR/><BR/>A película segue o percurso de Sophie Scholl, uma persistente estudante universitária, e do seu grupo de amigos, que distribuem folhetos clandestinamente, apelando a uma revolta contra o sistema ditatorial. Contudo, quando as suas manobras são descobertas, a protagonista é alvo de um exaustivo ataque psicológico por parte dos elementos da Gestapo, vendo a sua vida ameaçada à medida que as acusações vão sendo cada vez mais reforçadas.<BR/><BR/>Baseado em factos verídicos - Sophie Scholl existiu de facto -, o filme começa bem, apresentando um ritmo escorreito e uma tensão digna de um "thriller" consistente, pois Marc Rothemund consegue inserir alguma vertigem nas situações que envolvem os planos de oposição dos jovens revolucionários. Contudo, esta densa vibração nem sempre se mantém, uma vez que "Sophie Scholl – Os Últimos Dias" segue depois moldes próximos de um vulgar telefilme, não dispensando longas e cansativas cenas de redundantes interrogatórios e do estereotipado julgamento. Esta linearidade manifesta-se também nas personagens, que exceptuando a protagonista são pouco aprofundadas.<BR/><BR/>É pena que estes momentos de previsibilidade dominem grande parte do filme, dado que as atmosferas claustrofóbias e os tons duros e secos concedem a "Sophie Scholl – Os Últimos Dias" uma interessante carga realista e, por vezes, próxima de uma vertente documental. Premiado com dois Ursos de Prata no Festival de Berlim – Melhor Realizador para Marc Rothemund e Melhor Actriz para Julia Jentsch (numa interpretação sentida e convincente) -, o filme acaba por ser vítima do peso das expectativas, não por ser mal conseguido mas por não ir tão longe quanto poderia. Honesta e com uma envolvente aura idealista, "Sophie Scholl – Os Últimos Dias" é uma obra meritória e relevante, mas demasiado frágil, não ficando, infelizmente, como um registo especialmente marcante acerca das experiências do regime nazi. Não deixa de ser um filme a ver, ainda assim. 2,5/5 - Razoável.
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Há sempre alguém que resiste

Miguel

No livro "Até ao Fim", que relata a sua experiência enquanto secretária de Hitler e a sua experiência no "bunker" de Berlim nos derradeiros dias do Reich e do seu Führer, Traudl Junge conta igualmente como foi o seu processo de desnazificação e apaziguamento pessoal. Junge conta que durante muito tempo se auto-desculpabilizou com o facto de, em 1943, quando foi recrutada para secretária pessoal de Hitler, ser demasiado jovem e se ter deslumbrado com a oportunidade que essa posição lhe dava de conhecer e viver o mundo. Ou seja, um erro de juventude. Mas conta mais: que um dia, ao passear na Franz-Joseph Strasse, em Munique, reparou numa placa assinalando o lugar onde vivera Sophie Scholl, uma rapariga resistente que foi executada pelos nazis, e que a sua desculpa caíra por terra.<BR/><BR/>Scholl era mais nova um ano do que Junge, e partilhara uma experiência de militância nas BDM, a juventude hitleriana especialmente dedicada às raparigas. Em 1943, no ano em que Traudl entrou ao serviço de Hitler, Sophie foi presa quando distribuía panfletos incitando à resistência da juventude contra o nazismo, na Universidade de Munique. Juntamente com Sophie, foram presos o seu irmão, Hans, e um amigo, que tinha sido o autor do panfleto. <BR/><BR/>s três pertenciam à Rosa Branca, uma organização naturalemente clandestina, formada por pessoas muito novas, normalmente estudantes universitários, que se dedicava a denunciar o nazismo por dentro, a partir da sociedade civil, através de panfletos e pinturas nas paredes. No seguimento da prisão de Sophie e Hans, vários outros membros da Rosa Branca foram presos e executados. Entre os que sobreviveram, contam-se Inge Scholl, irmã de ambos, que escreveu a história da organização.<BR/><BR/>Sophie e Hans foram presos no dia 18 de Fevereiro, quando, como disse, distribuíam panfletos na universidade. Foram interrogados durante três dias. No dia 22, foram julgados por um tribunal popular presidido por um juiz que veio de Berlim propositadamente para o efeito. Foram considerados culpados e, nesse mesmo dia, executados através da guilhotina.<BR/><BR/>Com o fim da República Democrática Alemã, foram descobertos e analisados muitos documentos relativos à Alemanha nazi, entre eles os relatórios do interrogatório e a acta do julgamento de Sophie Scholl. Com base nesses documentos, Marc Rothemunds realizou "Sophie Scholl – Die Letzten Tage", que relata precisamente esse período de quatro dias que culminaram na execução dos Scholl. No entanto, e apesar dessa origem documental, o filme de Rothemunds é muito diferente, por exemplo, do recente "A Queda". Com efeito, o filme assemelha-se a uma peça de teatro, quase como se estivesse organizado em actos, e cada um desses actos condensa, com particular intensidade dramática, um determinado momento da história.<BR/><BR/>Por outro lado, o filme é feito com uma notável economia de meios: não há paradas, não há a encenação totalitária do nazismo. O filme passa-se (quase) sempre em interiores, em que apenas a bandeira com a cruz gamada e um busto de Hitler nos contextualizam. Tudo repousa nos diálogos e na capacidade de os intérpretes viverem as personagens: notabilíssima a interpretação de Júlia Jentsch no papel de Sophie e a subtileza inquietante de Alexander Held no papel do interrogador Mohr. Aliás, o segmento do interrogatório é, para mim, o melhor momento do filme, pela dinâmica que se estabelece entre as duas personagens. Ao contrário, a cena do julgamento parece-me francamente má, com a representação do juiz a cair na total caricatura, o que retira eficácia e dramatismo à acção.<BR/><BR/>Não sendo um grande filme, é de todo o modo completamente recomendável. Desde logo, pelo interesse em ver formas de narrativa cinematográficas que escapam ao que estamos mais habituados a ver – há muitas formas de contar histórias em cinema que não são as tradicionais do cinema americano de indústria, "made in" Hollywood. Mas sobretudo pelo elevado interesse da história, pelo facto de ela ser em grande parte desconhecida (eu confesso que a primeira vez que ouvi falar no nome de Sophie Scholl foi no referido livro da Traudl Junge). Até para nos mostrar que, afinal, a Alemanha sob o jugo nazi não foi a tábua rasa de fanatismo cego que muitas vezes julgamos ter sido.<BR/><BR/>Como no poema de Manuel Alegre, mesmo na noite mais escura, há sempre alguém que resiste. Nem que seja pelo acto simples, mas terrivelmente mortal, de escrever a tinta numa parede a palavra mágica e subversiva entre todas: freiheit.
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