A Síndrome da Sequela
Fernando Costa
“Sexo e a Cidade 2” tal como o titulo sugere é pura e simplesmente a sequela de “Sexo e a Cidade” e consegue provar que todos os “clichés” que fazem, na maioria das vezes, uma sequela pior que o filme original têm toda a razão de existir. Michael Patrick King volta a “Sexo e a Cidade” versão cinematográfica acumulando as funções de argumentista/realizador. Mas se o primeiro filme, apesar de não estar exactamente à altura da série televisiva, se conseguia ver com agrado, “Sexo e a Cidade 2” está apenas à altura de uma qualquer vulgar e mal conseguida sequela. Michael Patrick King que escreveu mais de 30 episódios, e realizou mais de 10, durante as 6 séries de “Sexo e a Cidade” que a cadeia americana de televisão HBO produziu, parece ter-se esquecido do que caracterizava a série original, do tipo de humor e elegância que pontuavam a série. E não, não foram as personagens que evoluíram com a idade, o pecado está bem presente desde o inicio do filme quando Micheal Patrick Harris recria o encontro das 4 amigas em Manhattan, de forma cinematograficamente pouco inventiva e interessante. Algumas vez seriamos capaz de ver Carrie Bradshaw em 1986, em plena Manhattan vestida “à la mode” Madonna “Like a Virgin”? Perdeu-se o bom gosto quer em termos de humor, subtileza e propósito, quer em termos de guarda-roupa (sobretudo da personagem de Carrie Bradshaw). O filme segue as 4 protagonistas 2 anos depois dos acontecimentos do primeiro filme. Charlotte tem agora 2 filhos e luta para conseguir lidar com eles no dia-a-dia; Miranda está igual a si mesma mas atreve-se a abandonar um trabalho onde não era respeitada só porque não o era e a tentar ser só mãe por uns tempos; Carrie está perdida, vive maritalmente com “Big”, escreveu um livro que põem em causa as tradicionais convenções e vivências do casamento e está supostamente a passar por uma crise de meia-idade onde apesar de estar feliz, tem pavor em tornar-se parte de um “casal normal”; finalmente temos Samantha e bom, Samantha continua a ser Samantha e graças a Deus por isso. O problema com este “Sexo e a Cidade 2” é o excesso. Há excesso em tudo – em termos visuais num inenarrável casamento “gay”, incluindo o despropositado número de Lizza Minelli (que apesar de continuar a saber dançar tem simplesmente uma presença pavorosa no ecrã) e as contínuas e na maioria das vezes superficiais e desinteressantes piadas “gay”. “Sexo e a Cidade” nunca foi particularmente profundo na forma como tratava as suas personagens “gay”, eram de alguma forma “clichés” ambulantes, mas na série televisiva, assim como no primeiro filme, estavam lá a contribuir para um propósito e tudo era contido o suficiente para não se evidenciar a falta de profundidade das personagens. Aqui não. Depois do casamento “gay” e de uma série de sequências gratuitas dignas de um concurso de “miss t-shirt molhada” que parecem estar aqui apenas para agradar a um possível público-alvo masculino, as ”nossas” heroínas (sim gostamos delas e sentimos a sua falta) trocam N.Y.C. por Abu Dhabi e o exagero contínua: são o “gag” atrás de “gag”, até ao ponto de exaustão, sobretudo porque alguns deles são exagerados, fáceis e/ou de mau gosto. Depois continuam os típicos e aborrecidos planos dos abdominais e “rabos” masculinos ao léu e claro há o velho namorado que aparece caído do céu… No meio deste panorama temos Kim Cattral que, com a sua fantástica Samantha, consegue tornar algo simplesmente ordinário e banal em algo suportável e é ela (Samantha/Kim Cattral) sem dúvida a melhor coisa deste “Sexo e a Cidade 2”. Além de Samantha nem tudo é mau: falamos da cena do casamento em que Carrie e “Big” têm uma conversa com uma fã de Carrie, que se identifica com ela mas que fica chocada e decepcionada quando Carrie e “Big” dizem que não querem ter filhos - em termos de discriminação arriscamos dizer que o filme joga em fazer sentir mais a discriminação sobre Carrie e “Big” por este facto do que a discriminação sobre outra qualquer personagem. Existe ainda o menos conseguido mas interessante momento de confissão de Charlotte e Miranda em relação ao quanto é mau por vezes lidar com os filhos e o quanto por vezes uma mãe tem vontade de fugir. Já o ajustamento de Carrie e “Big” à sua nova condição de vida é tratado de modo um pouco banal. Ficamos contentes por no final chegarmos à conclusão que “Big” é finalmente mais maduro que Carrie… Resumindo, um guião menos estruturado e com menos propósito, um exagero na quantidade de “gags” e no facilitismo dos mesmos, alguma descaracterização das personagens para provocar situações que resultem em “gags” ou desenvolvimento narrativos, uma realização ilustrativa e uma duração excessiva do filme tornam esta película no protótipo da má sequela - tudo é “amplificado” e “exagerado” perdendo-se as características de singularidade do trabalho original. Como analisaria Carrie Bradshaw: será que é isto que acontece a relacionamentos amorosos (e falo da nossa relação com a série e com estas personagens) que duram muito tempo? Perdem a chama, tornam-se vulgares? A resposta é óbvia: tal como num casamento para manter a chama acesa é preciso investimento e este “Sexo e a Cidade” é muito preguiçoso. *(1/5)
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