Os Passageiros da Noite
Título Original
Realizado por
Elenco
Sinopse
Charlotte Gainsbourg é Elisabeth, uma parisiense dos anos 1980 que, após ser deixada pelo marido, encontra trabalho num programa de rádio da noite para poder sustentar os seus dois filhos adolescentes. É lá que se cruza com uma jovem, Talulah (Noée Abita), que decide amadrinhar e de quem passa também a tomar conta.
Um drama de Mikhaël Hers (“Ce sentiment de l'été”) que teve estreia na edição de 2022 do Festival de Berlim. PÚBLICO
Críticas Ípsilon
Críticas dos leitores
Os passageiros da noite
Fernando Oliveira
Paris, anos 80. Elisabeth é mãe e divorciada. Sente-se um pouco perdida, o dinheiro não abunda, procura um rumo para a sua vida. Os dois filhos adolescentes são quase opostos nos comportamentos, ele escreve e é sossegado, a filha é uma idealista activa. Elisabeth arranja trabalho como assistente num programa nocturno de rádio, aqueles para onde os ouvintes ligavam para se falarem um pouco de tudo. Uma noite uma jovem é entrevistada no estúdio, quando percebe que ela não tem sítio para onde ir, Elisabeth convida-a para a sua casa. Mas Talulah, é o nome dela, tem um problema grave com o consumo de drogas, e as coisas complicam-se… O que é muito bonito no filme é que o realizador, Mikhaël Hers, não se deixa enredar nesta complicação que a vida dos personagens é. O seu olhar é de uma suavidade comovente, segue-os como se procurasse “prender” não a tristeza que, parece, os habita, mas a forma como essa tristeza é diluída na felicidade que vem dos pequenos acontecimentos do dia a dia, de um sorriso, de uma dança ou de uma música, de uma conversa, dos amores e desamores. Viver é belo (“tudo o que tivemos foi o que fomos uns para os outros”)… E o que é ainda mais bonito no filme é forma como Hers nos faz imergir nos anos 80, na França de Mitterand, sabendo como os quer mostrar, olhando-os com nostalgia é certo, mas também sabendo contornar essa ideia com um olhar absolutamente cinematográfico: se o som e as canções são importantes para esta viagem é pelas imagens que somos transportados para essa época, misturando imagens “roubadas” a filmes da época às imagens filmadas por ele, e até a imagens da época falsas. E para quem como eu viveu essa época, parece que nos leva para lá outra vez, que estamos a ver um filme dessa e nessa época, as diferenças entranham-se, coisas desse tempo que parece já não existirem agora: o programa na rádio, as conversas e os livros, o cinema de Rohmer (as personagens vão ao cinema), a rebeldia juvenil, e acima de tudo a Liberdade. Ou seja, vemos o filme como um “sonho”. Há melancolia das coisas boas que desapareceram, mas sem ser um lamento. O mundo avança… Com uma interpretação belíssima de Charlotte Gainsbourg, “Os passageiros da noite” é o mais belo filme que, até agora, estreou este ano por cá. (em "oceuoinfernoeodesejo.blogspot.pt")
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