Ouistreham - Entre Dois Mundos
Título Original
Ouistreham
Realizado por
Elenco
Sinopse
Críticas dos leitores
4 estrelas
José Miguel Costa
Marianne, uma escritora burguesa parisiense (interpretada por uma sublime Juliette Binoche, que transpira sensiblidade e emotividade por todos os poros), muda-se sozinha para uma cidade operária do norte de França (sem que qualquer dos seus contactos próximos conheça o seu paradeiro e motivações), despojada de quaisquer mordomias, por um periodo de seis meses, com o objectivo de infiltrar-se (não revelando a sua identidade) como empregada de limpeza numa empresa do sector e, desse modo, obter material cru e realista para a sua próxima obra literária.
Pretende sentir na pele (despindo-se de teorizações) e, posteriormente, denunciar ao seu público, as dificuldades diárias dos "invisiveis em nosso redor" que (sobre)vivem dignamente (como verdadeiros "heróis da gestão financeira") à custa de trabalhos precários árduos e pagos a "tostões" (quase destituidos de direitos) por entidades empregadoras que lucram milhões (num ciclo com o qual todos acabamos por ser coniventes, mesmo que inconscientemente, ao subcontratar os seus serviços).
É este o mote do filme "Ouisthreham - Entre Dois Mundos", que se insere na linha do designado realismo social (ainda mais se considerarmos o facto do cineasta, o gaulês Emmanuel Carrère, ter colocado Binoche a contracenar exclusivamente com não actrizes que fazem de si mesmas), mas evita qualquer tipo de panfletarismo.
Aliás, a questão política até surge por acréscimo (tal não significa, todavia, que tal vertente seja desvalorizada, pelo contrário), uma vez que o principal foco se direcciona sobretudo para o domínio do questionamento moral e ético da conduta comportamental adoptada pela protagonista (e, inúmeras vezes, por nós, pertença da "esquerda caviar"). Ou seja, deteminadas acções, mesmo que praticadas com a mais altruista da intenções, em certos contextos desfavorecidos, não poderão ser, simultaneamente, percepcionadas como voyerismo ou um mero "brincar aos pobrezinhos para descansar as nossas consciências"? Tal fica-nos a pairar na mente após a saída da sala de cinema.
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