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Ouistreham - Entre Dois Mundos

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Drama 106 min 2021 M/12 24/03/2022 FRA

Título Original

Ouistreham

Sinopse

<div>Farta de teorizar sobre a crise, o desemprego e a precariedade laboral, a escritora Marianne Winckler (Juliette Binoche) decide tirar seis meses da sua vida e sentir na pele o verdadeiro significado de tudo isso. Ao iniciar um emprego numa empresa de limpezas, acaba por vivenciar as enormes dificuldades com que milhares de pessoas se deparam diariamente. Mas. apesar do trabalho árduo e da constante exaustão, vai viver também momentos de amizade e companheirismo que lhe vão ficar gravados na memória. </div><div>Um filme com argumento e realização do escritor francês Emmanuel Carrère (“Amor Suspeito”), que transporta para o grande ecrã o “best-seller” de não-ficção escrito por Florence Aubenas. PÚBLICO</div>

Críticas dos leitores

4 estrelas

José Miguel Costa

Marianne, uma escritora burguesa parisiense (interpretada por uma sublime Juliette Binoche, que transpira sensiblidade e emotividade por todos os poros), muda-se sozinha para uma cidade operária do norte de França (sem que qualquer dos seus contactos próximos conheça o seu paradeiro e motivações), despojada de quaisquer mordomias, por um periodo de seis meses, com o objectivo de infiltrar-se (não revelando a sua identidade) como empregada de limpeza numa empresa do sector e, desse modo, obter material cru e realista para a sua próxima obra literária.
Pretende sentir na pele (despindo-se de teorizações) e, posteriormente, denunciar ao seu público, as dificuldades diárias dos "invisiveis em nosso redor" que (sobre)vivem dignamente (como verdadeiros "heróis da gestão financeira") à custa de trabalhos precários árduos e pagos a "tostões" (quase destituidos de direitos) por entidades empregadoras que lucram milhões (num ciclo com o qual todos acabamos por ser coniventes, mesmo que inconscientemente, ao subcontratar os seus serviços).

É este o mote do filme "Ouisthreham - Entre Dois Mundos", que se insere na linha do designado realismo social (ainda mais se considerarmos o facto do cineasta, o gaulês Emmanuel Carrère, ter colocado Binoche a contracenar exclusivamente com não actrizes que fazem de si mesmas), mas evita qualquer tipo de panfletarismo.
Aliás, a questão política até surge por acréscimo (tal não significa, todavia, que tal vertente seja desvalorizada, pelo contrário), uma vez que o principal foco se direcciona sobretudo para o domínio do questionamento moral e ético da conduta comportamental adoptada pela protagonista (e, inúmeras vezes, por nós, pertença da "esquerda caviar"). Ou seja, deteminadas acções, mesmo que praticadas com a mais altruista da intenções, em certos contextos desfavorecidos, não poderão ser, simultaneamente, percepcionadas como voyerismo ou um mero "brincar aos pobrezinhos para descansar as nossas consciências"? Tal fica-nos a pairar na mente após a saída da sala de cinema.

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