Mel Brooks + musical à moda antiga = sucesso!
Myke Greywolf
Ontem à noite fui ao cinema. A pedido da minha esposa (que está quase a dar à luz um menino, e por isso, quer ir ao cinema o mais possível antes de isso acontecer - já que depois será mais difícil), fomos ver o filme "Os Produtores", com Nathan Lane, Matthew Broderick, Uma Thurman e Will Ferrell. Devo dizer que as minhas expectativas eram absolutamente zero. Este filme foi muito pouco promovido nos media, e eu não fazia absolutamente nenhuma idéia sobre o género de película que me aguardava. Pelos actores, dava para perceber que era uma comédia, mas o facto de ter o Will Ferrell - um dos meus actores mais abominados - fazia com que a minha esperança de ser um filme agradável estivesse a níveis abissais.<BR/><BR/>Foi uma das maiores surpresas cinematográficas que já tive. O filme é uma comédia musical. E diga-se de passagem, não é um musical modernaço que sente a necessidade de se desculpar por ser musical com efeitos cinematográficos espalhafatosos e estrelando actores que nunca tinham cantado na vida e que só foram encaixados para aumentar o "star-power" da película, à maneira de "Chicago" ou "Moulin Rouge".<BR/><BR/>Não senhor, este é um verdadeiro musical à moda dos anos 50, adaptado de um autêntico musical da Broadway e filmado como tal - sem brilhantismos e fogos de artifício gratuitos, mas simplesmente como uma tentativa bem sucedida de passar para o grande ecrã uma genuína experiência de palco.<BR/><BR/>A minha maior surpresa ao começar a ver "Os Produtores" foi de ver o nome de Mel Brooks como produtor e argumentista, escarrapachado nos créditos iniciais. Isto aumentou um pouco as minhas expectativas, mas não muito - apesar de Brooks ser um dos comediantes mais geniais da história do cinema, ele é também uma pessoa de altos e baixos, capaz do melhor ("Balbúrdia no Oeste/Blazing Saddles", "Filme Mudo/Silent Movie", "Spaceballs") e do não-tão-bom ("Dracula: Dead and Loving It").<BR/><BR/>Não tive de me preocupar durante muito tempo. Depois de uma sequência inicial de diálogo um pouco longa demais, necessária para expor a premissa do filme, as primeiras gargalhadas começaram a aparecer (apesar de estarem poucas pessoas na sala), em virtude da dinâmica impecável entre os dois protagonistas, que retomaram os papéis que já tinham desempenhado na Broadway. Depois, começaram os números musicais, e a partir daí, o filme nunca mais abrandou no seu ritmo cómico extraordinário, não poupando nada nem ninguém em sátiras rudes mas hilariantes. As coreografias são excelentes, e a letra das canções tem aquele toque que só Mel Brooks é capaz de oferecer.<BR/><BR/>A história é básica, mas interessante: Max Bialystock (Nathan Lane), um produtor da Broadway decadente e pouco escrupuloso, recebe uma visita de Leo Bloom (Matthew Broderick), um contabilista neurótico e inseguro, que ao vistoriar os livros de contas de Max, pondera que em teoria, é possível um produtor lucrar mais se a sua produção for um fracasso do que se for um sucesso. Ao ouvir isto, Max convence Leo a alinhar num plano fraudulento para angariar dois milhões de dólares, produzir a pior peça de todos os tempos, e fugir para o Brasil com o dinheiro dos investidores.<BR/><BR/>Para isso, vão procurar a pior peça alguma vez escrita, finalmente encontrando-a sob a forma de "Primavera para Hitler", uma apologia à Alemanha Nazi escrita por Franz Liebkind (Will Ferrell), um ex-militar alemão da 2.ª Guerra, pouco arrependido e totalmente lunático. Com a ajuda de uma voluptuosa corista principal sueca, que pouco sabe de inglês (Uma Thurman) e de um coreógrafo escandalosamente gay (Gary Beach), tudo se parece configurar para que surja daqui o pior espectáculo do mundo. Mas... bem, digamos que nem tudo corre como previsto.<BR/><BR/>Os actores, especialmente Lane, Broderick e Ferrell, desempenham com perfeição e alegria total os seus papéis. Lane mostra a razão pela qual, apesar de ter atingido pouco sucesso no cinema, é um dos actores mais procurados na Broadway. Broderick só surpreende com o seu desempenho, canto e dança, quem não tinha conhecimento das suas aventuras nos palcos do teatro. Ferrell, finalmente, reencontra a sua graça perdida desde os seus tempos no "Saturday Night Live". Uma Thurman, apesar de se apresentar descaradamente "sexy" e engraçada, mostra não estar muito à vontade nos números musicais (talvez de propósito - afinal de contas, a sua personagem foi escolhida para protagonizar um "flop").<BR/><BR/>"Os Produtores" é puro entretenimento cómico da melhor qualidade, sem apologias nem vergonhas. Para quem for capaz de engolir duas horas de musical satírico num panorama cinematográfico em que quase todos os filmes se tentam levar a si próprios demasiado a sério, eu recomendo plenamente este filme, e garanto duas horas de gargalhadas de primeira classe. Uma das melhores comédias dos últimos tempos. Nota: Fiquem até ao fim dos créditos! A sério!
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