Flora Gomes, realizador guineense, pertence à geração revolucionária que lutou pela independência da Guiné-Bissau. "Os Olhos Azuis de Yonta" é um dos primeiros filmes africanos a abordar a questão da desilusão dessa mesma geração, na Guiné pós-revolução. Vicente é um dos personagens fortes, um herói da luta pela independência, desencantado pelas consequências da revolução. Tentou adaptar-se à nova sociedade, mas continua, à sua maneira, a lutar pelo desenvolvimento do país e não deixa de se irritar contra a corrupção e a traição que continuam a desabrochar pela cidade. De tal modo que nem repara que Yonta, a filha de um dos seus camaradas, está apaixonada por ele. A jovem representa a geração seguinte, que já cresceu em liberdade e em cujos sonhos a moda, a música e a influência europeia têm o principal papel. Por seu lado, Yonta não repara em Zé, um estudante pobre oriundo do campo, que lhe manda cartas de amor anónimas. Existe uma outra personagem importante neste filme: a cidade de Bissau, que o realizador trata como uma "heroína" capaz de se adaptar às mudanças dos tempos modernos.