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Os Miseráveis

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Drama, Thriller 102 min 2019 M/16 20/02/2020 FRA

Título Original

Les Misérable

Sinopse

Oriundo de Cherbourg, na Normandia, Stéphane Ruiz (Damien Bonnard) acaba de se mudar para Montfermeil, nos subúrbios de Paris, para se juntar à Brigada Anti-Crime (BAC). Na sua equipa estão Chris e Gwada (Alexis Manenti e Djebril Zonga, respectivamente), dois polícias veteranos conhecidos pelos métodos bastante controversos de lidar com a criminalidade. Em poucos dias, Stéphane dá-se conta da enorme tensão entre os habitantes daquele lugar – sejam criminosos ou pessoas comuns – e as autoridades. Tudo ganha novas proporções quando uma criança filma, com o seu drone, uma operação policial.
Primeira longa-metragem do francês de ascendência maliana Ladj Ly, "Os Miseráveis" debruça-se sobre as guerras de poder em bairros problemático  e tem como ponto de partida a curta homónima que Ly realizou em 2017. Em competição pela Palma de Ouro no Festival de Cinema de Cannes – onde recebeu o Prémio do Júri –, obteve uma nomeação para o Óscar de Melhor Filme Internacional. PÚBLICO

Críticas Ípsilon

Cuidado, as crianças estão a ver

Jorge Mourinha

Há leões à solta nos subúrbios problemáticos de Paris. A culpa é do sistema. Ladj Ly faz o diagnóstico com lucidez num falso policial sobre um sistema que não pensa no futuro.

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Críticas dos leitores

Não há ervas daninhas, nem homens maus.

Raul Gomes

Mas sim, maus cultivadores. <br />Retrato dos dias de hoje de qualquer periferia em qualquer parte do mundo. <br />As tensões emergentes entre os diferentes gangues locais, sejam eles, muçulmanos, negros, ciganos ou políciais, que se pretendem dominar uns aos outros, exacerbando as múltiplas situações que surgem a toda a hora. <br />Quem vigia/provoca quem? <br />E, não ajuda as intervenções policiais, prepotentes e corporativistas. <br />É necessário uma frieza e leitura dos acontecimento, para que a bomba não detone. <br />E isso, como se vê todos os dias, a maior parte das vezes não existe, e é adulterada e exponenciada, para que surja, como pretendem as polícias, o surgimento de uma intervenção musculada que deteriora ainda mais as situações, já elas explosivas.
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Não há ervas daninhas, nem homens maus.

Raul Gomes

Mas sim, maus cultivadores. <br />Retrato dos dias de hoje de qualquer periferia em qualquer parte do mundo. <br />As tensões emergentes entre os diferentes gangues locais, sejam eles, muçulmanos, negros, ciganos ou políciais, que se pretendem dominar uns aos outros, exacerbando as múltiplas situações que surgem a toda a hora. <br />Quem vigia/provoca quem? <br />E, não ajuda as intervenções policiais, prepotentes e corporativistas. <br />É necessário uma frieza e leitura dos acontecimento, para que a bomba não detone. <br />E isso, como se vê todos os dias, a maior parte das vezes não existe, e é adulterada e exponenciada, para que surja, como pretendem as polícias, o surgimento de uma intervenção musculada que deteriora ainda mais as situações, já elas explosivas.
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Aquilo que ninguém quer ver

Nazaré

Quem vir o trailer perceberá logo que não é mais uma adaptação do romance de Vítor Hugo. Há de facto uma alusão, mesmo no fim, mas o que se passa neste filme é antes uma crónica dos 2 dias de estreia dum polícia na 'Brigade anti-criminalité' (BAC). E o que se vê é muito, muito feio. Um retrato cru e muito convincente do que é a realidade dos bairros de subúrbio da rica e sofisticada Paris, onde não há senão miséria (pois), maldade e tragédias (que são fugazes, pois naquele milieu a sensibilidade não existe); onde o viver em sociedade é uma completa preversão, com as crianças, que eu diria serem as verdadeiras protagonistas desta fita, a saberem que a sua escola a sério é para virem a entrar no crime ou no fundamentalismo islâmico. Mas, no meio disso, o ainda principiante nestas lides tem um gesto de humanidade, saindo com o carro para ir à farmácia, quando devia ter ficado à espera dos companheiros de equipa. Talvez seja isso que virá a salvá-lo de ter de morrer ou de matar, não ficamos a saber. Peu importe, é uma gota de água neste ambiente de terror. Este filme alerta para a insustentabilidade da Europa bem pensante em que vivemos, cheia de podres que não consegue resolver, porque no fundo ninguém está interessado em resolvê-los, mesmo com o aviso das revoltas de 2005. O que se está a passar é o ricochete de séculos de mama colonial. <br /> <br />Como cinema em si, é uma fita notável: a história é muito bem contada, a batalha final é cinco estrelas, e os actores estão sempre impecáveis.
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5 estrelas

José Miguel Costa

O filme "Os Miseráveis" é o novo "La Haine" (a obra sensação de Mathieu Kassovitz que, há 25 anos, se tornou alvo de culto instantâneo) do século XXI. Que maior elogio poderia fazer à primeira longa metragem do realizador Ladj Ly? <br />A frase que à data se tornou "viral, "jusqu'ici tout va bien, jusqu'ici tout va bien" (debitada por um homem, em queda livre de um prédio, prestes a esborrachar-se no chão), também poderia assentar que nem uma luva a esta "versão actualizada" (e necessariamente mais explosiva, já que as tensões sociais e raciais em França, consequência da crise económica e do fortalecimento dos movimentos politicos populistas de extrema direita, deterioraram-se significavamente). <br /> <br />Seguindo os cânones do "realismo social" (sem apelar ao melodrama fácil e abdicando do binário planfletarismo maniqueista "bons/vitimas versus maus"), a narrativa subtilmente política (estruturada em modo de "triller social" algo documental) relata-nos as vivências de três membros de uma brigada anti-crime responsáveis pelo policiamento diário de um problemático bairro social multiétnico dos subúrbios de Paris (com múltiplas tensões internas latentes, prontas a eclodir à minima "faisca"), em constante gestão precária de alianças informais com os bad boys (com o objectivo - questionável, se não atendermos ao contexto e à máxima "de entre os males o menor" - de manter, colada a cuspo, a "paz podre"). <br /> <br />Sem debruçar-se sobre as causas que levaram ao presente "estado da nação", opta por esfregar-nos na cara as consequências dos erros politicos do passado (pelo que poderá ser percepcionado com um produto cinematográfico de cariz descritivo). E fá-lo (empaticamente e num registo que entrelaça eficazmente humor e drama) recorrendo a um ritmo fluido/contagiante (de intensidade crescente) e brindando-nos com um espetáculo visual intenso que induz a sensação de "filmagem ao vivo" num quase plano-sequência (fruto da pericia e da diversidade de métodos de captação imagem por si utlizados - a frenética câmara de mão, drones, o constante intercalar entre planos abertos e fechados).
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