On Falling
Título Original
Realizado por
Elenco
Sinopse
Aurora (Joana Santos) deixou família e amigos em Portugal e emigrou para a Escócia, na esperança de dar um novo rumo à sua vida. Mas as coisas não correm como o esperado e, depois de tantas horas dedicadas ao trabalho, ela vê os seus dias tornarem-se vazios. Sem ligações humanas que a ajudem a contornar a monotonia, tenta sobreviver a cada fim do mês com o parco dinheiro que lhe sobra.
Estreado mundialmente no Festival Internacional de Cinema de Toronto (Canadá), On Falling esteve em competição no Festival de San Sebastián (Espanha), onde recebeu o prémio de melhor realização.
Produzido pela Sixteen Films, a produtora do cineasta Ken Loach, este drama sobre emigração e alienação foi realizado e escrito pela portuguesa radicada em Edimburgo Laura Carreira, também autora das curtas "Monday" (2017), "Red Hill" (2018) e "The Shift" (2020), esta última em competição na secção Horizontes do Festival de Veneza. PÚBLICO
Críticas dos leitores
On falling
Fernando Oliveira
Aurora é uma imigrante portuguesa em Edimburgo. Terá trinta e alguns anos, trabalha num enorme armazém de vendas on-line, recolhe os produtos encomendados, a banda sonora da sua vida é o bip da máquina com que regista esses produtos, bip constante que acelera quando ela se demora.
Ela é vítima de uma das muitas tragédias do nosso tempo, uma das “escravas” da economia digital, dos algoritmos que nos controlam e alienam todo o tempo. Uma dos milhões de pessoas que imigram à procura de uma vida melhor, e que ficam “presas” numa rotina sem sentido e sem futuro, personagens secundárias na sua própria vida.
Aurora é a personagem principal de “On falling”, a primeira longa-metragem de Laura Carreira, e dela nunca saberemos nada, de onde veio, dos seus sonhos e das suas expectativas; sabemos que o seu presente está espartilhado entre as prateleiras do armazém e as paredes do apartamento que partilha com outros imigrantes espanhóis e polacos; o dinheiro é pouco (o arranjo do telemóvel leva-a a passar fome e não pagar contas até ao próximo vencimento); é uma vida vazia.
O olhar de Aurora é um olhar para o espelho, a ver-se, para a crueldade do mundo onde vivemos e para a indiferença dos outros. Se Laura Carreira ancora o filme num olhar politico próprio do realismo britânico – a insegurança em trabalhos exigentes tanto fisicamente com mentalmente, as portas que se fecham a um futuro melhor – foge também dele, porque o seu olhar é enxuto, sem sentimentalismos que sublimem o drama da história, Aurora não é vitimizada por ele, limita-se a segui-la, olha-a a trabalhar, fixada no ecrã do telemóvel, conversas breves com os outros, a sua enorme solidão.
Um olhar doloroso sobre pessoas sem esperança, numa vida envergonhada, sem amizades, até sem vontade de sexo. Pessoas que apenas valem o que produzem (cinicamente recompensadas com uma barra de chocolate) tratadas com desprezo (o teste às drogas, a “impossibilidade” hierárquica). O olhar de Laura Carreira não precisa de sublinhar nada, basta olharmos à nossa volta para nos apercebermos deste fosso onde nos deixamos cair.
Aurora acaba por desabar, numa entrevista para um outro emprego, onde a câmara olha quase só para ela, quando tenta responder as perguntas mais pessoais Aurora apercebe-se que já não sabe quem é, que o mundo desistiu dela ou que ela desistiu do mundo, que está só. Acaba por cair, desmaiada num parque, uma queda terrível no “poço sem fundo” da solidão, do vazio existencial.
Quando o sistema tem uma quebra, uma esperança, uma brincadeira entre os colegas, Aurora sorri, apenas brevemente, a tristeza não despega. É assim o pesadelo social em que vivemos. O olhar de Laura Carreira é duro, mas a forma precisa como filma os momentos da vida de Aurora, a forma como pontua estes momentos que nos mostra com as pequenas coisas do dia-a-dia, a forma quase ternurenta como “protege” Aurora, tudo isto tornam este filme profundamente desencantado e triste num belo retrato de uma mulher nestes tempos cruéis.
Mulher interpretada de forma sublime por Joana Santos, a forma extraordinária como espelha nas expressões do seu rosto e nas suas atitudes a desumanização destes dias é tremenda. Como interpreta a sua ausência na sua própria vida. (em "oceuoinfernoeodesejo.blogspot.com")
On falling
Maria Jose Fernandes dos Santos
Subtil e poderoso...realista com uma boa interpretação de Joana Santos.
Drama actual.
4 estrelas
José Miguel Costa
"On Falling", a coprodução luso-ingelesa que marca a estreia no formato longa-metragem da jovem cineasta (e também argumentista) Laura Carreira, tem granjeado inflamadas reacções de entusiasmo nos circuitos de cinema independente, e já possui múltiplas distinções no seu currículo, nomeadamente, o Prémio de Realizadora Revelação no BFI London Film Festival e a Concha de Prata no Festival de San Sebastian.
Um drama simples/"silencioso" e destituído de panfletarismo (apostando, ao invés, na subtileza, contenção e minimalismo) que, apelando a um registo de realismo social (ou não tivesse o dedinho do Mestre Ken Loach enquanto produtor do filme) e fazendo uso de uma linguagem documental, aborda as temáticas da exploração laboral das empresas multinacionais (assente em baixos salários e métodos de produção desumanizantes), migrações e isolamento social. "Limita-se" exclusivamente a seguir, quase em tempo real (através de uma câmara que funciona como um "olhar passivo"), as rotinas monótonas e repetitivas da solitária e "vazia" figura central, uma jovem portuguesa emigrada na Escócia (sem qualquer rede relacional de suporte e a subsistir no limiar da pobreza independentemente de estar inserida no mercado de trabalho - operacional num armazém -, o que a obriga a partilhar uma casa sobrelotada com desconhecidos de diferentes nacionalidades).
Um retrato íntimo e sombrio (exponenciado por uma fotografia saturada pelas cores escuras dos espaços industriais e destituída de luz natural) da precariedade financeira, existencial e afectiva dos anónimos "operários do capitalismo neoliberal" que sobrevivem numa realidade alienante (meros robots presos a funções mecanizadas/destituídas de estimulação intelectual, que se limitam a socializar com o seu "fiel amigo" telemóvel - sendo as parcas interações com os pares destituídas de qualquer conteúdo e/ou afecto). Realce-se a (sóbria) performance de excepção da (desconhecida) actriz Joana Santos.
On Falling
Conceição
Um filme que nos deixa presos do princípio ao fim e a pensar. Uma magnífica representação da atriz principal.
Envie-nos a sua crítica
Submissão feita com sucesso!






