<div>Em 1944, sob as ordens do oficial alemão Adolph Eichmann – que liderava a logística de extermínio nazi – Benjamin Murmelstein (1905-1989) foi nomeado "ancião" do Conselho Judeu do gueto de Theresienstadt, a 80 quilómetros de Praga, na ex-Checoslováquia. Em pleno Holocausto, Theresienstadt foi anunciado pelos nazis como uma comunidade-modelo para a elite judaica, oferecida pelo Führer. Inicialmente, os judeus foram para lá de livre vontade, uma vez que, em teoria, aquele era um lugar onde poderiam viver tranquilamente e não um campo de transição ou extermínio. Porém, para pessoas como o cineasta Claude Lanzmann, autor do monumental "Shoah" (nove horas e meia de filme sobre o assassínio em massa de judeus nos campos de concentração, que demorou 11 anos a estruturar), representou o expoente máximo da perversidade e da crueldade do III Reich, porque "a sua mentira camuflou o crime nazi".</div><div>Em 1975, Lanzmann entrevistou Murmelstein em Roma (Itália), onde este vivia exilado desde o fim da guerra. Essas filmagens, que deveriam servir para "Shoah", não chegaram a ser incluídas no filme e foram doadas ao Museu do Holocausto, em Washington (EUA). Em 2012, já com 87 anos, o realizador decide regressar a elas e usá-las como base de "O Último dos Injustos" (tal como Murmelstein se autonomeou). Com estas três horas e 40 minutos de filme, tenta mostrar Murmelstein como uma vítima das circunstâncias, ao mesmo tempo que desmascara Eichmann e as enormes contradições do Conselho Judeu. PÚBLICO</div><div><br /></div>