Brilhante!
FJForte
Foi com emoção que assisti e saí da sala, e é com emoção que escrevo sobre este brilhante filme português, que prova, sem dúvida, que o cinema português pode criar uma indústria (no melhor sentido que indústria pode ter - uma arte de labor, com meios próprios e público próprio) quando se conjugam os factores que contribuem para esse fim, como se conjugam, de forma extraordinária, para criar um dos mais belos filmes portugueses dos últimos tempos. A realização de Barroso é brilhante: transporta-nos para uma brilhante e credível reconstituição de época, que para além das personagens nos apresenta o quadro social, político e religioso, eloquentemente e através de algumas cenas muito bem escritas. <br/>A realização dá-nos uma narrativa escorreita e clara, sem desperdícios de tempo em cenas inúteis e tem toques de um classicismo notável, sem roçar o ultrapassado ou "kitsch", como os brilhantes grandes planos de alguns actores, nomeadamente da protagonista. A fotografia é líndissima, e, pese embora ou apesar da questão do milagre (que me parece que não chega a ser tese, é antes uma hipótese entre tantas outras), o filme resulta como belo, credível e de uma elegância belíssima, mesmo nas cenas mais arriscadas ou que poderiam cair no mau gosto, o que nunca acontece. <br/>Quanto aos actores, comovi-me e comovo-me cada vez que penso neste filme, pois todos eles, sem excepção, são brilhantes, até nas participações secundárias. Aliás, outra arte do filme é ter acertado em cheio no elenco: cada actor dá vida a um personagem de forma absolutamente credível e irrepreensível. Aqui podemos ficar com a renovada certeza de que temos entre nós um dos maiores actores vivos do mundo, Nicolau Breyner; Paulo Pires mostra igualmente que tem um grande talento como actor, indo muito além, para nossa felicidade, da imagem pura dos modelos que, infelizmente, hoje em dia são contratados para fazerem de actores, limitando-se muitos deles, e mal, a fazer de eles próprios; a protagonista é uma belíssima surpresa e surge-nos como uma brilhante intérprete; e pelos olhos e coração dentro entra-nos outra enorme actriz, Margarida Vila-Nova, inesquecível também, e as renovadas confirmações de Ana Padrão, outra grande actriz, e Ricardo Cerqueira, que se confirma aqui como um brilhante actor da mais jovem geração, tudo se conjugando numa história que nos entra pelos olhos e pelo coração dentro, para ficar. E todos os actores, incrivelmente, estão fisicamente certos e adaptados aos seus papéis. Todos os portugueses deviam ver este filme. E espero que esta obra de arte seja vista no estrangeiro. Gostei muito, muito mesmo.
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