O Diabo do Entrudo
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Críticas dos leitores
Bonito olhar sobre o Entrudo de Lazarim
Um crítico anónimo
“O Diabo do Entrudo” é um filme que se destaca pela sua sensibilidade, rigor etnográfico e consciência crítica. Mais do que um simples registo da tradição carnavalesca de Lazarim, é uma reflexão cuidada sobre a relação entre identidade cultural e modernidade, memória colectiva e transformação social.
Diogo Varela Silva conduz-nos por entre máscaras de madeira, testamentos satíricos e rituais ancestrais, mas fá-lo com uma câmara que não é intrusiva, é cúmplice, atenta, e profundamente respeitadora dos protagonistas da história. Um dos grandes méritos do filme é a sua capacidade de evocar questões universais a partir de um microcosmo tão específico como o Entrudo de Lazarim.
A inclusão crescente das mulheres numa tradição que antes lhes era vedada, por exemplo, levanta interrogações pertinentes sobre o papel do género nas festividades populares e sobre a inevitável adaptação dos rituais ao espírito do tempo. Da mesma forma, a crescente atenção mediática e turística à festa, que antigamente era vivida quase exclusivamente pela comunidade, sugere uma tensão crescente entre autenticidade e espetacularização.
O documentário evita cair na armadilha da nostalgia cega ou da crítica fácil. Em vez disso, propõe-se a observar e a escutar, escutar os habitantes, os artesãos, os caretos, e até os receios do próprio realizador, que em voz-off se interroga sobre o futuro desta tradição. Essa honestidade é talvez o seu traço mais distintivo: não há aqui uma verdade absoluta, mas sim uma série de olhares e vozes que, em conjunto, constroem um retrato multifacetado e emocionalmente rico.
Com apenas 52 minutos de duração, “O Diabo do Entrudo” consegue ser ao mesmo tempo um documento histórico, uma carta de amor à cultura popular e uma chamada de atenção sobre o modo como tratamos o nosso património imaterial. É um filme que nos convida a olhar para dentro, para o que somos, de onde vimos, e como queremos continuar a celebrar isso no futuro. Altamente recomendável para todos os que se interessam por cinema documental, cultura portuguesa, questões de género ou antropologia visual. Mais do que um filme, é um testemunho vivo da alma de uma comunidade.
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