//

O Botânico no Alentejo + O Torneiro da Mouraria

Votos do leitores
média de votos
Votos do leitores
média de votos
38 min 2006 POR

Título Original

O Botânico no Alentejo

Sinopse

A ficção "O Botânico no Alentejo" segue a história de dois músicos que tocam todos os dias na estação do Oriente para ganhar a vida e que, quando encontram um “livro mágico” esquecido por um passageiro, são transportados numa viagem ao Alentejo. A sessão abre com a curta-metragem documental "O Torneiro da Mouraria", produzido e realizado entre Abril e Novembro de 2013 em Évora. Texto: Cinemateca Portuguesa

Críticas dos leitores

O torneiro da mouraria

Luisa

Nesta visita breve ao longo e demorado tempo dos artífices de outras eras que entre nós persistem ainda, recordando-nos um outro sentido, talvez perdido, do habitar a vida, o filme de Takis Panas, com cinematografia de Andre Birken, instala-se deliberadamente no equilíbrio instável entre a técnica avançada do cinema - técnica dos imateriais, do som e da luz - e as técnicas tradicionais que através daquela são manifestadas: a do trabalho manual e mecânico sobre a matéria, no seu esplendor etimológico - a madeira. <br /> <br /> Este ligeiro paradoxo desfaz-se, porém, depressa: porque também a cinematografia dos visitantes da loja recôndita aceita recuar a uma sensibilidade artesanal da sua arte fílmica, para através dessa forma se aproximarem do seu conteúdo temático, a arte do torneiro. <br /> <br /> <br />O filme torna-se assim num equivalente artesanal do seu objecto temático. <br /> <br />Na época da reprodutibilidade digital da matéria, da clonagem, das impressoras 3D, da Second Life, os recursos industriais para produzir objectos acabados e perfeitos (tão perfeitos, mesmo, que virtuais) mediante a programação electrónica, erradicaram da face do mundo instâncias tradicionais como a deste torneiro 'do tempo dos mouros'. <br /> <br />O que João Balhé e Takis Panas nos vêm recordar não é nem o regresso a uma modalidade artesanal irrecuperável, nem a suspeita sobre a fabricação industrial de mobiliário, adaptada à escala planetária dos biliões de habitantes - mas apenas, no meio de tudo isso e no cruzamento entre duas eras da história, incomensuráveis entre si, dar sinal da escala e da medida humanas da nossa relação ao mundo, às suas matérias, aos seus objectos, às coisas do uso diário que nós, humanos, fazemos, aos utensílios e aparelhos que mediam essa relação, à qualidade do tempo de habitar, ao modo de conduzir uma existência. <br /> <br /> <br />Esse sinal não reclama para si qualquer aplicação, qualquer verdade de que seja portador, qualquer juízo, nem testemunha de alguma truculenta 'etnocinematografia dos espaços urbanos' - daí o seu incómodo, o incómodo da simplicidade 'octogenária' de quem ainda vive um segredo desfeito: o da proximidade, quando a mão era mão inteira, num trato com a matéria do mundo que ía de substância a substância - e não a sua franja 'digital', hábil, mercurial e desligada. <br /> <br /> JMM
Continuar a ler

Envie-nos a sua crítica

Preencha todos os dados

Submissão feita com sucesso!