Talvez nenhum outro filme tenha mexido tanto com os alicerces da nova sociedade democrática pós-25 de Abril como O ABORTO NÃO É UM CRIME. Parte da série <em>Nome Mulher</em>, com autoria das jornalistas Maria Antónia Palla e Antónia de Sousa, o filme foi realizado pela Cinequipa para a RTP tendo sido exibido a 4 de fevereiro de 1976 pelas 22h00. O número de queixas que começaram a chegar nos dias seguintes foi astronómico. Os setores mais conservadores da sociedade insurgiram-se perante um filme que não só falava abertamente do aborto, como mostrava imagens explícitas de uma interrupção de gravidez (deve-se a Monique Rutler a coragem dessas imagens – segundo conta a lenda, o operador desmaiou e foi a realizadora que pegou na câmara e terminou a filmagem do procedimento). Houve uma queixa ao Ministério Público, todos os elementos da Cinequipa foram chamados a interrogatório e Maria Antónia Palla, que dava a cara na abertura e no fecho do programa, foi acusada de incitamento ao crime e prática ilegal de medicina – a jornalista seria ilibada de todas as acusações em 1979. A polémica em torno do filme gerou um intenso debate na sociedade portuguesa que deu força à campanha que defendia a realização do referendo à Despenalização do Aborto. A fechar a sessão, apresenta-se um outro programa de televisão realizado por Monique Rutler, da série <em>Viagem Através do Homem</em>, que igualmente gerou grande polémica, uma vez que foi censurado pela direção de programas da RTP pelo seu retrato cru da sociedade portuguesa. Trata, igualmente, das questões da natalidade e do planeamento familiar. NASCER: A GRANDE AGRESSÃO é exibido pela primeira vez na Cinemateca, em cópia de 16mm. O ABORTO NÃO É UM CRIME é exibido em nova cópia digital onde se apresenta o “final alternativo” da versão para cinema, produzida em 1977. Texto: Cinemateca Portuguesa