//
Nada Pessoal
Título Original
Nothing Personal
Realizado por
Elenco
Sinopse
Uma jovem (Lotte Verbeek), após uma separação dolorosa, decide deixar toda a sua vida para trás e andar sem rumo, em busca de silêncio e paz. Depois de algum tempo a deambular sozinha pelas paisagens da Connemara, no Oeste da Irlanda, ela acaba por encontrar uma casa isolada numa pequena ilha onde vive Martin (Stephen Rea), um homem de meia-idade que, tal como ela, também ama a natureza e a solidão. Martin propõe-lhe trabalho em troca de comida e é assim que, dia após dia, sem quase necessitarem de palavras, nasce entre eles uma ligação profunda, de mútua compreensão e cumplicidade.
Vencedor de cinco importantes prémios no Festival Internacional de Cinema de Locarno (entre os quais o de melhor interpretação feminina, melhor obra e o prémio da crítica), é um filme sobre a necessidade de liberdade e de solidão, realizado por Urszula Antoniak. PÚBLICO
Vencedor de cinco importantes prémios no Festival Internacional de Cinema de Locarno (entre os quais o de melhor interpretação feminina, melhor obra e o prémio da crítica), é um filme sobre a necessidade de liberdade e de solidão, realizado por Urszula Antoniak. PÚBLICO
Críticas Ípsilon
Críticas dos leitores
Minimalismo Poético
Fernando Costa
"Nada Pessoal" é um filme sobre o nómada que existe dentro de todos nós. Duas personagens, a natureza e um refúgio - combinação tornada poética pela realizadora. Depois de uma curta-metragem e dois trabalhos televisivos, Urszula Antoniak (realizadora polaca) estreia-se na longa-metragem cinematográfica com "Nada Pessoal", filme cujo argumento original foi também escrito pela realizadora. A história de "Nada Pessoal" é simples, uma mulher decide deixar para trás toda a sua vida e ir sozinha vaguear pelo mundo. Nunca nos é explicitado as razões de tal decisão mas isso é o menos importante. "Nada Pessoal" não pode ser mais actual e vai buscar inspiração aquele sentimento crescente que vai povoando a nossa sociedade - a vontade de não pertencer a nada, de não pertencer a uma cidade, a um país, a alguém - apenas de pertencermos a nós próprios e, em suma, à vontade de sermos verdadeiramente livres! É que a liberdade é uma ilusão da sociedade moderna (arriscamos a dizer que quase tão genialmente criada como "o facto de o diabo nos ter convencido de que não existia") e se há coisa para o qual o ser humano não foi feito for para estar preso: equivale à mais básica e violenta quebra do espírito humano (não é por acaso que a prisão é o principal castigo para os criminosos). Mas ao mesmo tempo que precisamos de ser livres também não somos feitos para existir sozinhos, existe algo que nos impele a contactar, a buscar proximidade, a procurar o contacto porque é isso que nos torna humanos. A expressão que serve de título ao filme pretende ser uma alusão à tentativa de não pertencer: o partilhar, o estabelecer contacto e ligação implica fazer cedências e de alguma forma perder alguma da nossa liberdade; se não existir "nada pessoal" não existe ligação, conexão e não se fica preso (...e não se sofre). É com esta dicotomia humana que o filme joga - querer ser livre mas ficar condenado à solidão ou partilhar e perder a liberdade. Ao deixar para trás a sua vida Annie (no filme referida com "You" (simplesmente tu)) parte inicialmente para a natureza - é como se de alguma forma necessitasse de regressar aos primórdios e habitar a paisagem natural (neste caso as montanhas), de ter uma vida rudimentar e isolada, com o menor contacto possível com outros seres humanos - só homem e natureza. Posteriormente vem a necessidade de contacto, inicialmente para conseguir alimento e depois inevitavelmente surge novamente a afectividade...Tudo isto discutido até aqui poderia resumir-se a um processo de luto por um terminar de uma relação afectiva até ao início de uma nova mas a realizadora trabalhando estes conceitos de forma minimalista abre espaço para a reflexão sobre o homem, o nomadismo e a afectividade e isso torna o filme interessante. E Urszula Antoniak filma tão bem... A poesia conseguida não está nas linhas de diálogo (mais escassas do que as habituais nos dias de hoje e por isso também mais relevantes quando proferidas) mas sim na forma como Antoniak cria os planos - por exemplo, através da forma como faz combinar a côr de cabelo ruiva da protagonista com a natureza onde se insere, no grande plano das mãos dos protagonistas ou no abraço possível entre os dois no final do filme. Mas é nos momentos de ausência de palavras e na forma como se deixa cada plano ficar o tempo necessário no ecrã que a realizadora ganha o filme, permitindo (e na realidade quase obrigando) ao espectador espaço para a dita reflexão.Lotte Verbeek (Anne) e Stephen Rea (Martin) entram no jogo de Antoniak e interpretam competentemente as suas personagens. Não é possível esquecer o grito gutural de Lotte Verbeek no inicio do filme após se ter atirado para fora de um camião - dir-se-á quase animalesco como só poderia ser nesta fase do filme. Stephen Rea imprime uma maior afectividade a Martin, que sendo mais velho está infinitamente mais ciente e conformado com a sua necessidade. Em súmula, "Nada de Pessoal" é um filme minimalista cheio de poesia e capaz de provocar reflexão acerca do homem. Sem ser uma obra genial é um bom filme e uma boa estreia da realizadora polaca cujo nome devemos reter para seguir - Urszula Antoniak. ***(3/5)
Continuar a ler
Densidade emocional
pjp
Para uma estreia na realização o mínimo que se pode dizer é que dificilmente poderia ter sido uma estreia mais auspiciosa. Um poema filmado repleto de sensibilidade, subtileza e de amor expresso na sua forma mais simples e singela... As paisagens Irlandesas quase por si só seriam um óptimo pretexto para ir ver este filme, mas torna-se apenas em mais um pretexto face a todos as mais-valias que esta viagem cinematográfica oferece.
Continuar a ler
Solidão ou estar sozinho
Megane
A estreia como realizadora de Urszula Antoniak no cinema parece promissora. Embora a maior parte do filme esteja situado na costa oeste da Irlanda, todo ele tem um não sei quê da Europa Oriental: diálogo escasso, pouca música, belas fotos de paisagem e de interiores e o tempo implacavelmente sombrio. Este é um filme não tanto sobre a solidão, mas sobre o estar sozinho. Percebe-se que a mulher ao estar sozinha neste canto remoto da Europa é algo que ela escolheu deliberadamente e, eventualmente, prefere. Parece que os telespectadores do sexo masculino têm problemas com a sua arrogância e grosseria, enquanto que as mulheres acham-na forte e cheia de carácter. Stephen Rea, por seu lado, faz uma combinação perfeita com o seu comportamento impulsivo e ajuda-a com o seu senso de humor gentil. Felizmente o "relacionamento" de ambos evita clichês demasiadamente românticos com motivações e acções. Isto tudo combinado com as imagens poderosas, que perduram na nossa mente por muito tempo o filme torna-se agradável. Contudo achei a última cena intrigante e deslocada e poderia ter sido encurtada aqui e ali. Estou certamente ansiosa para ver o que Urszula Antoniak faz com seu próximo projecto.
Continuar a ler
Envie-nos a sua crítica
Submissão feita com sucesso!






