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Maria Cheia de Graça

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Drama, Thriller 101 min 2004 M/16 13/01/2005 Colombia, EUA

Título Original

Maria Full of Grace

Sinopse

Maria Álvarez, uma jovem colombiana de 17 anos que vive com a família, está determinada a escapar ao entorpecido quotidiano da sua vida. Uma oferta para um trabalho lucrativo, que implica carregar consigo droga até Nova Iorque, vai mudar o seu rumo. Mas, longe da viagem rotineira que lhe tinha sido prometida, Maria é levada para o perigoso e implacável mundo do tráfico de droga, numa missão de sobrevivência que terá de cumprir para alcançar uma nova vida. "Maria cheia de Graça" ganhou o Urso de Prata para Melhor Actriz e o Prémio Alfred Bauer no Festival de Berlim 2004 e o Prémio do Público no Festival de Sundance. <p/>PUBLICO.PT

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O tráfico de droga é uma questão complexa e polémica que suscita os mais diversos pontos de vista e gera, não raras vezes, fricções entre juízos de valor contraditórios. Assunto abordado também no cinema, está na origem de "Maria Cheia de Graça" ("Maria Full of Grace"), um "pequeno" filme independente que tem conseguido consideráveis distinções em festivais de cinema internacionais. Entre outros galardões, a primeira longa-metragem de Joshua Marston ganhou o Prémio do Público no Festival de Sundance e o Urso de Prata para Melhor Actriz (a estreante Catalina Sandino Moreno), factores que contribuíram para que a película despertasse alguma curiosidade.<BR/><BR/>"Maria Cheia de Graça" é, contudo, muito mais do que um filme "curioso", salientando-se como uma das obras-chave do cartaz cinematográfico do início de 2005. O mote narrativo do filme - sobre uma jovem colombiana que, perante a falta de perspectivas do seu limitado meio rural, aceita transportar para os EUA doses de heroína no estômago - poderia ter conduzido a concretizações pouco auspiciosas: desde o filme-choque brutal e "escandaloso" ao drama aparentado de um telefilme acerca das desgraças dos "coitadinhos", passando por vias moralistas e maniqueístas ou por um "thriller" descartável e unidimensional, muitos eram os rumos que a obra poderia seguir.<BR/><BR/>Joshua Marston evita os lugares comuns e opta por um olhar realista, seco e despido de exageros melodramáticos, aproximando-se das personagens sem recorrer a golpes sujos nem a vitimizações fáceis. Um filme de actores - sobretudo de actriz, devido à presença da excelente protagonista, Catalina Sandino Moreno -, "Maria Cheia de Graça" é um drama pausado mas pleno de intensidade, que aos poucos se vai insinuando e causando um discreto, mas violento, murro no estômago. Marston debruça-se sobre a imprevisível viagem de Maria, uma jovem de 17 anos, e as escolhas que terá de fazer para sobreviver face à crescente e incontrolável teia de desespero e tensão.<BR/><BR/>Uma das muitas "mulas" da droga, a protagonista transporta diversas cápsulas de heroína no estômago na perspectiva de conseguir algum dinheiro que a faça atingir uma vida mais promissora (não só para si, mas também para a família). Para além do perigo de ser detectada pelas autoridades, a jovem arrisca a própria vida, uma vez que, caso uma das cápsulas ceda, a morte é praticamente inevitável.<BR/><BR/>Joshua Marston filma todo este trajecto com particular intensidade, com destaque para as autênticas cenas de suspense no avião e no terminal de aeroporto. No entanto, os episódios ambientados nos EUA oferecem cenários não menos inquietantes, à medida que Maria se apercebe que as dificuldades não são automaticamente ultrapassadas na "terra das oportunidades".<BR/><BR/>"Maria Cheia de Graça" é um muito bem-conseguido estudo de personagem, mérito não só do realizador mas também - e principalmente? - da actriz principal, capaz de comportar as doses certas de calma, determinação e melancolia, fornecendo uma soberba contribuição para o vibrante turbilhão emocional que o filme carrega. Por vezes genuinamente comovente, noutras ocasiões com uma crua atmosfera de cortar à faca, a primeira obra de Joshua Marston é uma emocionante viagem marcada por múltiplas zonas de sombra e alguns raios de luz.<BR/><BR/>A amálgama entre a uma vertente quase documental e os traços de simbolismo - com alusões à sexualidade e sobretudo, à religião, como o cartaz e título do filme sugerem - funciona bem, e as personagens apresentam a ambiguidade necessária para tornar a acção credível (a óptima direcção de actores também ajuda).<BR/><BR/>"Maria Cheia de Graça" é uma envolvente obra "indie" com múltiplas cenas de antologia que insistem em permanecer no espectador, proporcionando uma experiência cinematográfica que, apesar de difícil digestão a espaços, é honesta, sufocante e memorável como poucas. Classificação: 4/5 - Muito bom.
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