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Madame Claude

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Biografia, Drama 112 min 2021 FRA

Título Original

Madame Claude

Críticas Ípsilon

Retrato de mulher em chamas

Luís Miguel Oliveira

A “vida de bordel” em toda a sua crueza, sem moral, emergindo o retrato de uma anti-heroína.

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Críticas dos leitores

Uns e outros

Pedro Brás Marques

“A rica tem nome fino, A pobre tem nome grosso, A rica teve um menino, A pobre pariu um moço”, cantava Luis Represas, nos Trovante. Todos conhecemos a divergência léxico-social sobre um mesmo facto, algo que não escapa ao mundo do sexo, nomeadamente a quem vive da prostituição alheia, onde a pobre é proxeneta (ou pior…) e a rica é “madame”. <br />“Há duas coisas pelas quais as pessoas vão sempre pagar: comida e sexo. E eu nunca fui muito boa a cozinhar”, esclarece Madame Claude, a protagonista do filme homónimo (Netflix). E tem razão: desde sempre se pagou por sexo e os bordeis eram o mercado perfeito para tal. Ninguém visita Pompeia sem passar pelo que resta do profusamente decorado lupanar. Na Idade Média, não havia cidade sem a sua “Casa de Mulheres”, onde acorriam todos, incluindo os sacerdotes. No sec XVII, em Zaragoza, havia um famoso prostíbulo só para monges franciscanos. Nos EUA, em tempos mais ou menos recentes, ficou famosa Heidi Fleiss ou “Madame Hollywood”. Mesmo por cá, ainda há meses ouvíamos falar de Ana Loureiro, uma “madame” que foi ao Parlamento lutar pelos direitos das suas meninas. Mas, acima de todos, a França, onde, até há pouco tempo, “a cultura do bordel” era uma instituição. É foi lá, nos anos 60 e 70 do século passado, que Fernande Grudet exerceu essa profissão, chegando ao topo da pirâmide com o nome de “Madame Claude”, de que a Netflix apresenta um novo biopic, o segundo sobre a personagem. <br />A narrativa mostra-nos a protagonista já instalada e em acção. Madame Claude trata as meninas (e as candidatas…) com um misto de profissionalismo e carinho. É claro que a avaliação duma candidata evoca a dum comprador de escravos, porque ambos estão a olhar para um objecto e não para um ser humano. Não têm clientes mas antes “amigos” famosos e menos famosos, desde políticos a polícias, sem esquecer os dos mundos da finança e da cultura. E tal como Bee, a personagem criada por Nick Cave em “Jubilee St”, também Madame Claude tinha um livro de apontamentos com muitos nomes. Daí ser temida. Mas a decadência está próxima até porque a mentira que ela cultivava (nomeadamente sobre o seu pretenso passado aristocrático) associada à inveja e ao receio de delação, acabam por fazer o seu caminho, mas o toque final serão…os impostos – um pouco como Al Capone… <br />O papel principal foi entregue a Karole Rocher que acerta no lado melancólico e quase trágico da vida de Claude, não só mas também provocadas pela ambiguidade da personagem, da sua relação com o poder, da desastrada ligação com a filha, das hesitações em ter um parceiro, da necessidade de proteger as meninas. Não era um papel fácil, mas respondeu à altura. Na realização e no argumento adaptado, outra mulher, Sylvie Verheyde, que no filme anterior, “Sex Doll”, já tinha abordado a temática do sexo pago, mas numa perspectiva contemporânea, as “cal girls”. Aliás, a reconstituição está primorosa, incluindo a tonalidade geral usada, a evocar a estética dos anos 60/70. <br />Uma proposta interessante, sobre uma temática “eterna”, com muito de voyeurismo mas que Verheyde jamais deixa escorregar para a vulgaridade.
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