Vargas é um homem de 54 anos que sai da prisão na província de Corrientes, na Argentina. Uma vez livre, quer agora encontrar a sua filha, já adulta, que vive numa zona pantanosa e remota no meio da selva. Para lá chegar, tem que atravessar grandes distâncias num pequeno barco através de um labirinto de rios incrustados na mata densa. Vargas é um homem silencioso e introvertido, que possui a reserva daqueles que vivem junto da natureza. À sua volta existe um grande mistério - nas pessoas que encontra e com quem partilha o ritual do mate e nos lugares por onde passa - que se apodera do mundo para ele inalterado mesmo após longos anos de encarceramento. Minuto a minuto, Vargas vai descobrindo o mundo enquanto avança, de canoa, pela selva em direcção a casa da sua filha.<br />Depois de uma primeira obra, "La Libertad", situada na fronteira, muito ténue, entre o documentário e a ficção, Lisandro Alonso, um dos nomes cimeiros do novo cinema argentino, regressa com LOS MUERTOS, que o IndieLisboa apresenta em antestreia. Aqui a ficção impõe-se, mesmo apesar do olhar etnográfico, e acompanhamos o périplo tropical de Argentino Vargas, um ex-recluso silencioso e introvertido, que depois de libertado quer apenas reencontrar a sua filha que não vê há já 25 anos. Alonso filma de forma magnífica e misteriosa o percurso solitário de um homem que se deixa revelar não pelo que diz mas pelas suas acções. E o jovem cineasta vai semeando, pelo caminho, mais algumas pistas para o seu enorme talento. <p> </p>Texto: IndieLisboa