O lado humano das fronteiras
Rita Almeida (http://cinerama.blogs.sapo.pt/)
Aos que “tradicionalmente” se consideram lisboetas, o filme “Lisboetas” não dá a conhecer nada de novo. As comunidades de africanos, brasileiros, russos, ucranianos e chineses que vieram para Lisboa à procura de melhores condições de vida fazem já parte do pano de fundo desta cidade. Mas o que este filme consegue é dar uma dimensão humana a essa realidade paralela, com a qual muitos de nós se cruzam, mas que raramente consideramos parte integrante da cidade, e sim como um anexo. Infelizmente, o tempo é escasso, e cada comunidade merecia um olhar mais atento e mais profundo. Ainda assim, os olhos ficam abertos, com uma nova atenção, que se espera ajude a criar a aceitação e inclusão desejadas. Sérgio Tréfaut documenta experiências, soterradas na burocracia do Serviço de Estrangeiros e Fronteiras, nos enganosos estratagemas de empreiteiros que fogem aos contratos, numa escola pouco integradora e na postura condescendente para quem não consegue comunicar na nossa língua.<BR/><BR/>A câmara passeia mais por rostos do que por espaços, numa abordagem personalizada e tocante. No entanto, Tréfaut cinge-se ao lado negativo, os casos de integração e de sucesso são esquecidos, aí reside o grande desequilíbrio desta obra.<BR/><BR/>Lisboa continua a mudar, num processo quase orgânico, onde diferentes culturas, religiões e identidades se juntam, mas a maior parte das vezes sem se misturar. Estou certa de que todos ganharíamos se percebéssemos, de uma vez por todas, que as fronteiras são elementos totalmente artificiais e que temos sempre algo a aprender com o outro, especialmente se esse outro for diferente de nós. Nota: 2,5/5.
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