Trabalho belo e perturbante em que o apuramento e a elegância formais servem, por contraste, a intensidade dramática - quase chocando, de tão díspares, sem se tornarem gratuitos. <p> Incidente sobre uma temática bastante específica e parecendo quase "pouco ambicioso" na expressão (simples e linear sem se tornar previsível) deixa no entanto em aberto possibilidades várias (e algo arrepiantes) de extrapolação simbólica para outros planos. </p><p> Em alguns momentos, pelo "clima de fundo" e no rigor formal, lembrou-me o Haneke, particularmente de "O Laço Branco", numa expressão diferente mas algo afim (as comparações tornam-se geralmente redutoras e um pouco forçadas, pretendia apenas sugerir um "aroma" semelhante que pressenti em ambos).</p><p> O miúdo / actor principal pareceu-me notável! </p><p> E precedido de uma "curta" com momentos deliciosos, em estilo documental, sobre alunos de uma escola do 1º ciclo. </p><p> Bom, adorei o filme e acho que vale a pena darem o benefício da dúvida a esta primeira obra do realizador, porém estas impressões de leigo valem o que valem, são bastante subjectivas e (tal como, de resto, as profissionais) raramente unânimes... </p>

"Lições de Harmonia", Emir Baigazin (?????)<br />BULLYING NO CAZAQUISTÃO (e aposto que chamo logo a vossa atenção pelo exotismo do tema ). Como se não bastasse a Aslan (um pré-adolescente) ter que (sobre)viver, com a sua avó idosa, numa casa (abonada em pobreza) perdida algures entre as extensas e inóspitas estepes, a partir de determinado momento (após um episódio humilhante ocorrido aquando de um exame médico escolar de rotina), passa também a ser marginalizado e vitima de maus tratos físicos e psicológicos por parte dos seus colegas. E se este já não era propriamente um miúdo sociável, desde então reforçou a sua "concha de isolamento"/inadaptação e começa a denotar-se-lhe a germinação de certos comportamentos psicóticos (que se manifestam através da sua obsessão pela limpeza e por um sadismo crescente em relação aos insectos e répteis, com os quais efectua as mais bizarras/cruéis "experiências científicas" - quiçá com um objectivo bem delineado na sua mente), no entanto, no "local de tormento" continua a (não) reagir com (aparente) apatia. <p> E esta "anatomia do mal" vai desfilando perante os nossos olhos de um modo austero e elegante (quase poético - se é que há poesia na fealdade), "pintada" com cores neutras, sem grandes objectivos narrativos (uma vez que o realizador aposta quase tudo no formalismo estético - dando ênfase aos grandes planos estáticos e quase tão assépticos quanto o protagonista) e recorrendo a uma grande "banda sonora" - o(s) silêncio(s). GRANDE 1º OBRA! </p>