''Já que te interessas pelo cinematógrafo, vou-te apresentar a apoteose de um novo género. Em breve, hão-de perceber que nunca houve nada mais realista nem mais poético do que os folhetins cinematográficos, que os intelectuais achavam tão ridículos. É nos Mystères de New York, é em Les Vampires que deveremos buscar a grande verdade deste século. Para além da moda, para além do gosto''. Esta citação é tirada de uma peça rara de Aragon e Breton, Le Trésor des Jésuites. Os futuros surrealistas tinham boas razões para apreciar os feuilletons do católico monárquico que era Feuillade. A glorificação do mal, a derrota dos valores burgueses, as constantes mudanças de identidade dos personagens, a recusa de uma narrativa ''lógica'' e de qualquer ''psicologia'' fazem destes serials obras mais ricas do que o próprio Feuillade poderia imaginar. Este é um dos primeiros exemplos em que os espectadores (alguns deles) foram co-autores dos filmes.<br> (Cinemateca Portuguesa)