É o filme-mito de Marguerite Duras - uma história de amor, vivida nas Índias, nos anos 30, numa cidade sobrepovoada nas margens do Ganges. Vozes sem rosto (quatro: duas jovens mulheres, de um lado, e duas vozes masculinas, de outro) evocam dois dias dessa história de amor. As vozes são totalmente autónomas. Falam entre elas. Não sabem ser escutadas. A história deste amor, as vozes souberam-na ou leram-na, há muito tempo. Algumas lembra-se melhor do que outras. Mas nenhuma se lembra de todo e nenhuma a esqueceu. Em momento algum sabemos de quem são estas vozes. No entanto, elas dão-se a conhecer pela forma como cada uma se lembra ou se esqueceu. <br />A história é uma história de amor imobilizada no culminar da paixão. À volta dela, uma outra história, a do horror - fome e lepra coladas na humidade pestilenta da monção - imobilizada ela também num paroxismo quotidiano. A mulher, Anne-Marie Stretter, mulher do embaixador de França nas Índias, agora morta - a sua campa está no cemitério britânico de Calcutá - como que nasceu deste horror. Ela está no meio dele com uma graça em que tudo se abisma num silêncio inexaurível - graça que as vozes tentam precisamente rever, porosa, perigosa, perigosa também para algumas vozes. Ao lado desta mulher, na mesma cidade, um homem, o vice-cônsul de França em Lahore, caído em desgraça em Calcutá. <br />Durante uma recepção na embaixada de França, o vice-cônsul maldito gritara o seu amor a Anne-Marie Stretter, perante uma Índia branca que olha. Depois da recepção, ela vai para as ilhas pelos caminhos direitos do delta. <p> </p>PUBLICO.PT