Geração Low-cost
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Elenco
Sinopse
Cassandre (Adèle Exarchopoulos) é uma comissária de bordo de uma companhia aérea “low cost” na ilha espanhola de Lanzarote. Não tem grandes planos para o futuro, vai vivendo sem grande entusiasmo, evitando criar ligações profundas com aqueles que a rodeiam. Está, na realidade, a lidar com a morte da mãe num trágico acidente de viação e fugiu do resto da família para não ter de lidar com isso. Uma comédia dramática da dupla francesa Julie Lecoustre e Emmanuel Marre. PÚBLICO
Críticas Ípsilon
Geração Low-Cost: a insustentável leveza das nuvens
Saudemos a estreia de um dos melhores e mais importantes filmes do ano. A odisseia pouco heróica de Cassandre, moça do ar.
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Rien à foutre
Fernando Oliveira
Cassandre é alguém que desvanece, a passividade é o seu estado de alma, passividade perante os afectos, a sociedade, o trabalho. Nada lhe interessa. Terá isto a ver com a morte da mãe num estúpido acidente de viação? É esta ausência responsável por este desinteresse?
Cassandre é hospedeira de bordo numa companhia de aviação low-cost, vive em Lanzarote nas Canárias, acompanhamo-la ao longo dos seus dias, no avião e nos aeroportos, as amizades superficiais com as colegas, os encontros sexuais fortuitos. E Cassandre vai desvanecendo na luz do Sol reflectida pelas nuvens no avião, nas luzes frenéticas das noites e nas festas regadas a álcool.
Não me parece ser uma personagem vulnerável, esta perda de contacto com a realidade é uma condição dos dias de hoje, e será também isto que Emmanuel Marre e Julie Lecoustre nos querem mostrar neste seu filme: a neurose contemporânea, a “escravização” do trabalho, o desaparecimento dos afectos e da intimidade, a “existência” virtual.
Engolidos pela nossa solidão, rarefeitos num mundo rarefeito de afectos. Angustia este filme. Cassandre é promovida, comete um erro, é suspensa, regressa à casa de família na Bélgica, aí a ausência da mãe tomou conta do pai, menos da irmã, Cassandre continua os seus dias de desinteresse. Aceita um emprego numa companhia aérea mais exclusiva nos EAU; no Dubai, véspera do Ano Novo (?), a câmara ainda encontra Cassandre no meio da multidão que vê o fogo-de-artifício, mas é apenas um vislumbre, Cassandre “some” então.
Adéle Exarchopoulos é uma actriz extraordinária, esta sua interpretação à beira da diafaneidade, uma naturalidade límpida, a forma como se expõe, o descuido com o corpo, a forma como Adéle “desaparece” em Cassandre (ou será o contrário?), roça o sublime.
Quase não se deu por ele, mas este é um dos mais belos dos últimos tempos. Tão cruel quanto belo, mas também é essa a sua relevância: não julga o mundo, não julga Cassandre, deixa-se encharcar por ele e nela. (em "oceuoinfernoeodesejo.blogspot.com")
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