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Fechar os Olhos

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Drama 169 min 2023 M/14 07/12/2023 ARG, ESP

Título Original

Sinopse

À época do seu desaparecimento, durante a rodagem do filme “La Mirada del Adíos”, Julio Arenas era um dos mais amados actores espanhóis. Embora o seu corpo nunca tenha sido encontrado, as autoridades concluíram que terá caído acidentalmente ao mar e encerraram o caso. Quase 30 anos passados sobre esse evento, o realizador Miguel Garay, seu grande amigo, decide fazer uma retrospectiva da vida dele num programa de televisão. 

Estreado no Festival de Cinema de Cannes em Maio de 2023, “Fechar os Olhos” arrecadou o prémio de melhor filme na secção competitiva na edição de 2023 do LEFFEST - Lisboa Film Festival – atribuído por um júri composto por Elia Suleiman, Fanny Ardant, Khalik Allah, Georgi Gospodinov, Nitin Sawhney, Rachel Kushner e Adriana Molder. 

Nomeado para 11 prémios Goya, conta com realização do celebrado realizador espanhol Víctor Erice (“O Espírito da Colmeia”, “O Sul”, “O Sol do Marmeleiro”), que escreve o argumento em parceria com Michel Gaztambide. O elenco conta com Manolo Solo, José Coronado, Soledad Villamil e Ana Torrent. PÚBLICO

Críticas dos leitores

Abrir os olhos para ver

Fernando Lobo Pimentel

"Fechar os olhos" (ainda possível de ver em horário peculiar no Nimas ou no Ideal em Lisboa) é um filme que convida a abrir os olhos depois de o ver, um convite à contemplação, aquela contemplação ativa, de quem não nasceu para monge, porque o filme não é apenas belo, tira partido de uma linha narrativa impregnada de mistério, conta uma história a que me atreveria a chamar um conto, de tal forma é forte o final, para o qual todos os elementos concorrem.

Uma das coisas que apreciei mas de que não irei dar exemplos, é que Victor Erice emprega muita variedade e pouca repetição nas coisas bonitas que faz com as imagens e mesmo o som. O filme dele é uma espécie de anti-sitcom. Embora até tenha um pouco de piada aqui e ali, não se consegue fazer uma fórmula que explique ou englobe todos os seus recursos, como a unificação das leis da física, que os cientistas procuram. Repara-se na separação constante da imagem entre zonas de luz e de escuridão (o mistério). Uma parte que se sabe e uma que não.

Um filme quase religioso, no sentido de abordagem ao mistério. Confesso a minha perplexidade com a relativa lentidão de uma cena breve perto do final. Objetivamente analisada a sua ação (era uma tarefa prática) parecia que a película estava temporariamente a mover-se mais devagar. Foi para mim um dos momentos aparentemente menos atraentes mas que depois me fez pensar no que este filme também era: um convite a ver e viver devagar.

Numa entrevista ao realizador espanhol, na resposta à pergunta habitual de "porquê apenas 3 longas metragens até à data (em várias décadas)" ele confessa-se como um cineasta que "filma" mesmo quando não filma. Já o Saramago dizia "Se podes olhar vê. Se podes ver repara".

E termina lembrando o que disse um poeta espanhol, que não queria ser poeta: "Queria ser poema".

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A Paixão pelo Cinema

Hélio José Marques Pereira

Tudo neste filme é perfeito e é bem patente o amor do grande Victor Erice, 83 anos, pelo cinema. Gostaria de informar José Miguel Costa do seguinte: 1) Terrence Malick só teve um interregno de 20 anos, entre "Dias do Paraíso"(1978) e "Barreira Invisível"(1998), a partir desta data tem mais oito longas-metragens, por isso a comparação com Victor Erice é despropositada; 2) Victor Erice tem no seu currículo cinco longas-metragens e não 3; 3) A última longa-metragem foi uma parceria com Abbas Kiarostami e data de 2007, tem por isso 16 anos e não 30 anos; 4) "O Espírito da Colmeia" foi a primeira longa-metragem e não a última, data de 1973, tem por isso 50 anos e não 30: 5) Aqui estão as longas-metragens de Victor Erice: "O Espírito da Colmeia" (1973), "O Sul" (1983), "O Sonho da Luz, o Sol do Marmeleiro" (1992), "Correspondências (2007), "Fechar os Olhos" (2023); 6) Quando não se sabem as coisas, o melhor é fazer uma consulta para não se "dar barraca".

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4 estrelas

José Miguel Costa

O octogenário Victor Erice, um dos emblemáticos realizadores da História do cinema autoral europeu, apesar de apenas possuir no seu currículo 3 longas-metragens (a última das quais remonta há 30 anos, "O Espírito da Colmeia" -, portanto, uma espécie de Terrence Malick espanhol), retorna ao activo com "Fechar os Olhos".

Um melancólico drama clássico (definido, com graça, pelo crítico Eurico Barros como um "thriller de terceira idade") que se revela uma poética homenagem à memória e identidade da sétima arte (fazendo recordar o lendário "Cinema Paraíso"), e cuja história, laboriosamente construída sem pressas ao longo de 169 minutos, é centrada num actor misteriosamente desaparecido durante a rodagem de um filme na década de 1990.

Entretanto esquecido, este facto emerge à tona, entre o restrito ciclo de amigos íntimos, após o realizador (aposentado) do filme inacabado (que visionaremos in loco, em formato 16 mm, na introdução e encerramento desta mini obra-prima) ser convidado a falar acerca do dito cujo, em 2012, num programa de televisão que se dedica à exposição/investigação de "casos por resolver".

Por consequência, regressaremos, em conjunto com o cineasta (actualmente a viver em semi-reclusão autoimposta), ao(s) seu(s) passado(s), fantasmas, amores e sonhos por realizar, sob uma envolvente atmosfera de euforia.

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Reflexão sobre o envelhecimento

Paulo B

Deambulação do realizador por temas como a velhice, o cinema, a memória. O enredo do filme, embora não desprovido de realismo, não é o mais importante, é um pretexto para abordar esses temas, viajando entre o passado e a história de um filme inacabado e o presente, vivido de reencontros e reflexões sobre o decurso da vida.

Para ver devagar, viajando pelos sentidos e emoções que o filme pode proporcionar. fechando os olhos por vezes…

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