Há muito que ando para redigir a minha opinião em relação ao último filme do «mestre» John Carpenter, «Fantasmas de Marte». Tal como assistimos ao longo da extensa e brilhante carreira de Carpenter, grande parte dos seus filmes passam-se em cenários decadentes, que acabam por constituir o universo apocaliptico que criou («Nova Iorque 1997», «Fuga de LA», «Vampiros», «Eles Vivem»...)- O empoeirado Planeta Vermelho. Os anti-heróis são, também, uma constante na sua obra: Snake Plissken e Jack Burton são personagens que em nada se adaptam ao herói altruísta, cujo principal dever é espalhar a boa fé pelo mundo – James 'Desolation' Williams(Ice Cube9). É precisamente toda esta escuridão que justifica, em parte, o desenlace pessimista de grande parte dos seus filmes – a invencibilidade dos fantasmas Marcianos. Todos eles têm a marca Carpenter, o criador do «trash-movie» e o impulsionador do cinema série B, um realizador multifacetado, inovador e, acima de tudo, um artista da imagem - cada plano neste «Fantasmas de Marte» funciona como um quadro onde Carpenter pinta cenários desoladores e caóticos, onde nada liga com nada. É precisamente este cenário chunga que persiste neste filme: as criaturas punk, os comboios, as tribos de indios, o grande balão voador ao jeito dos Westerns antigos e a referência à lenda de Pandora, tornam este filme numa «obra de carreira» para Carpenter. O terror é outra presença indiscutível no seu trabalho, homenageada, de forma perfeita, neste filme - as portas entreabertas e as visões, filmadas na primeira pessoa, das criaturas extraterrestres. «Fantasmas de Marte» de John Carpenter é, assim, um misto de vários filmes que marcaram o seu cinema, desde Halloween até Vampiros, passando pelas Fugas e até pelas suas pequenas produções dos anos 90 («Cidade dos Malditos» e «Bíblia de Satanás», por exemplo). Carpenter escreveu, produziu, realizou e compôs a banda sonora de «Fantasmas de Marte». Um clássico moderno, uma obra-prima.(*****)