Será, porventura, possível um filme de autor misturar "a torto e a direito" realidade ficcionada com cenas de videojogos de "guerreiros ninjas"? "Devorar a Noite", segunda longa-metragem da dupla francesa Caroline Poggi e Jonathan Vinel, parece corroborar essa hipótese, contrariando, desse modo, o estereótipo de tal junção de dimensões encontrar-se restrita aos blockbusters para audiências pipoqueiras.

O sucesso desta interligação advém do facto da realidade virtual ser tratada como uma espécie de extensão do real a ocorrer num universo paralelo. A que acresce a habilidade para criar uma narrativa apelativa com um mix de elementos de drama familiar, romance queer, thriller de acção, ficção científica e animação (tudo isto sem denotar um pretensiosismo intelectual excessivo).

O filme aborda as temáticas da busca de identidade e da fraca interacção social dos jovens através da sombria história de dois jovens irmãos (ela menor de idade) que, apesar de viverem sozinhos na mesma casa, comunicam entre si e mantêm o vínculo sobretudo por via dos personagens que encarnam no jogo Darknoon.

Todavia, esta conexão fica em risco em virtude do encerramento definitivo do servidor do jogo em causa. E como se tal não bastasse, ele (um pequeno traficante de droga galifão e anti-social) ainda arranja uma outra "distração" ao apaixonar-se perdidamente por um rapaz. @jmikecosta