Deus é Brasileiro

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110 min 2003 M/12 05/12/2003 BRA

Título Original

Deus é Brasileiro

Sinopse

Farto dos erros cometidos pela Humanidade, Deus (António Fagundes) decide tirar férias para descansar das chatices que os seres humanos lhe causam. Mas para isso precisa de encontrar um santo que se ocupe dos seus deveres enquanto ele estiver ausente. Resolve então ir à procura no Brasil, um país muito religioso, que nunca teve, no entanto, um santo reconhecido oficialmente. O seu guia no Brasil é Taoca, um pescador que vê na presença de Deus a oportunidade de se livrar de todos os seus problemas. Aos dois juntam-se ainda Madá, uma jovem muito apaixonada. Os três viajam do litoral até ao interior à procura de Quinca das Mulas, o candidato a santo que irá substituir Deus nas suas férias.<p/>PUBLICO.PT

Críticas dos leitores

O nosso todo-poderoso

Ricardo Pereira

Em janeiro de 2003, o presidente brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva visitou o bairro de Brasília Teimosa, na cidade de Recife. A prefeitura da cidade (prefeito João Paulo) trabalhou para deixar a comunidade mais limpa e arrumada nos dias que antecederam a visita, algo irônico uma vez que a idéia era fazer o Presidente e sua comitiva verem de perto as condições de vida numa autêntica comunidade pobre do Brasil de 2003. Houve congestionamento nas ruas estreitas e marcou-se a abertura do governo Lula com um evento midiático relacionado à pobreza que existe no país, muito embora a pobreza aqui estivesse especialmente embalada e vestida para tirar retrato. O fato curioso é que, em "Deus é Brasileiro", também há uma visita à mesma Brasília Teimosa. Depois de Lula, a comunidade recifense de Brasília Teimosa recebe Deus, na pele de um Antônio Fagundes trajando discreto guarda-roupa de fazendeiro barba-branca, calça tergal de azul celestial, camisa branca de tecido com botões, suspensórios e bengala com guarda-chuva. Esse Deus de Fagundes, embora nobre e altivo, não demonstra ter a sensibilidade de um artista. É composto pelo roteiro (adaptado de um conto de João Ubaldo Ribeiro por Diegues, João Emanuel Carneiro e Renata de Almeida Magalhães) como um burguês brasileiro, misto de coronel com intelectual e algo de empresário. Como o satanás na letra de "Simpathy For The Devil", dos Rolling Stones, o Deus de Fagundes fala das coisas que já fez, como dançar valsa em Viena ou recapitular engodos importantes da sua história, como a ressureição de Lázaro ("era catalepsia...). É passivo em momentos de testemunhar a dor alheia, orgulhoso da sua criação (homem, espaço, planeta), cansado (do ser humano), estressado. Não está à procura de uma geografia da fome, mas viaja pelo Nordeste e Tocantins para achar um substituto que possa assumir suas funções divinas enquanto tira férias "nas estrelas". Vem ao Brasil, país religioso que nunca teve um santo, para tentar encontrar esse substituto temporário. Passa a ser acompanhado por Taoca, que o ator baiano Wagner Moura transforma de maneira competente num canhestro boneco desse bicho engraçado que é o nordestino pobre e ignorante. Taoca é mais uma variação do Xicó/João Grilo de Ariano Suassuna ("Auto da Compadecida"), herdeiro também do Didi Mocó de Renato Aragão. É a representação típica e já cansada do homem nordestino, sem cultura mas feliz, analfabeto inteligente, matraca pitoresca. Taoca é pescador e borracheiro com expressão corporal de saltimbanco trapalhão. Ganha seu pão furando pneus na estrada de Maragogi, Alagoas, para poder oferecer conserto. Taoca vira guia e alívio cômico, juntando-se mais tarde a Madá (Paloma Duarte), desgarrada de um pai hipócrita no sertão pernambucano. "Deus é Brasileiro" assume sua função inevitável de road-movie social, interpretação talvez obrigatória e generosa para o filme. Se em "Bye Bye Brasil" Carlos Diegues mostrava o sertão que se transfigurava com a chegada das antenas de TV, com a perda de sua identidade cultural, em "Deus é Brasileiro" o diretor constata que o Brasil globalizado lançou ao desamparo uma legião de brasileiros. Não é mais a caravana Rolidei que está na estrada, mas um grupo de brancaleones que nada pode fazer para mudar a situação. Quanto ao santo brasileiro procurado, o final é mais surpreendente do que parece e só poderia ter saído da cabeça de João Ubaldo Ribeiro.
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