Oskar e Eli parecem ser senão a mesma pessoa. Eli não é mais que a sublimação dos fortes desejos de ódio, raiva e vingança de Oskar face aos colegas de escola que recorrentemente o "assediam". Apesar destes sentimentos, o íntimo de Oskar não é capaz de concretizar tão violentas acções, recorrendo assim à sua imaginação e criando um seu oposto, alguém que não é ele por ser uma menina, alguém que não é ele porque é um vampiro, alguém que não é ele por ser tão destemido, mas que o ajuda a aliviar-se da humilhação e do medo que aqueles colegas de escola lhe provocam. "Deixa-me entrar" é a compreensão de Oskar e da integração do seu eu benévolo e do seu eu maligno numa só pessoa, que o tornará um adulto capaz, que apesar da sua timidez, solidão e desadequação, será capaz de se defender futuramente, sem que para isso seja necessário destruir todos os que o rodeiam.

Comecei a ler a sinopse e pensei que tínhamos aqui um bom filme... mas afinal não passa da já saturante saga de lavagem cerebral sobre o «sobrenatural». Penso que assim a nossa juventude tem tudo para acreditar nestas idiotices; e mais grave, acreditando nesta, facilmente a acredita noutras mais perigosas.

Todos nós como membros da raça humana, apesar de diferentes, temos em comum sensações e sentimentos durante as várias fases das nossas vidas. Uma das mais misteriosas é a pré-adolescência. Este filme retrata esse mistério. Esse sonho frio que se entranha lentamente como a queda de neve numa realidade real e austeramente urbana. Muitos rapazes (ou raparigas) são vítimas de "bullying" nas escolas, guardando assim pensamentos atrozes de vinganças fantasiadas e levadas ao extremo. Muitos sonham com algo fantástico que os liberte do mundo problemático que os rodeia. Aqui o vampirismo é um (belíssimo) pretexto para escape desse mesmo enfado, dando à acção o ambiente de terror onírico das melhores e clássicas histórias infantis. Alguns temas e imagens serão algo controversos para certos públicos mas, são mostrados com tal naturalidade e elegância de ritmo que no final acabamos por nos deixar levar. Afinal de contas é um filme de terror!... Magnífico.

Mas será que o Jorge Mourinha viu o filme ou é só por se tratar de um qualquer filme nórdico com imagens bonitinhas e efeitos pirosos, com adolescentes de boca vermelha e de cara pálida? O filme não será o pior filme do ano, mas é um descuido tratá-lo desta forma. Um conjunto de imagens bonitas e iluminação cuidada não fazem um bom filme. A história é fraca, o argumento batido, os ataques vampirescos são descartáveis.