Depois de ter visto o "Cidade de Deus", fui ao cinema com uma certa expectativa. E talvez tenha posto a fasquia muito alta. Interessante, mas repetitivo. As histórias dos presos tomaram demasiado tempo e a revolta em si ficou em segundo plano. Mostra a realidade das prisões, mas de maneira um pouco à Spielberg, ou seja sentimentalista. Talvez o objetivo foi fazer com que as pessoas saíssem do cinema sem saberem se os prisioneiros são culpados ou vítimas por terem sido presos...

Nenhum acontecimento pode ser visto só de um lado, que foi o que aconteceu com o "contador da história" deste filme. Aliás, esse aviso é feito no fim. Partindo desse ponto de vista pode ser considerado um filme interessante. Possui uma narrativa básica, do tipo dos presos que quando são consultados contam simplesmente a sua história, dando origem a vários "flash-backs" que resultam algo repetitivos. Os homens ali presentes são verdadeiros monstros, seja por culpa da sociedade, seja pela culpa do sistema, situação que o narrador pretende, não se percebe porquê, amaciar. Mostra sobretudo a que ponto de degradação pode chegar um ser humano e, desse ponto de vista, vale a pena.

Um filme excepcional. Na minha opinião, este filme é um espelho das fotografias de Sebastião Salgado sobre o mesmo tema. Longe de ser um documentário, o filme "Carandiru" prende o espectador até às últimas cenas. Um cenário e fotografia excepcionais. Na minha opinião, a não perder!

O filme "Cidade de Deus" colocou a fasquia muito alta, a qual "Carandiru" não conseguiu superar. Do meu ponto de vista, o realizador, ao querer passar para a tela o lado humano dos presos, acabou por não ser imparcial e caiu em alguns exageros. Por outro lado, penso que cometeu o erro de querer meter demasiada informação para o tempo de filme, acabando por haver histórias que necessitavam de um maior número de cenas para serem bem conseguidas. O exemplo mais gritante deste facto foi que dos 146 minutos de filme, apenas 20 minutos (mais ou menos) são dedicados à revolta na prisão, quando este devia ter sido o tema principal do filme. A forma como foi retratada a intervenção da policia durante a revolta carece de rigor, o que advém do facto do autor ter admitido ter apenas ouvido a versão dos presos, não tendo sido ouvida a outra parte (polícia). <BR/>Por fim, este tipo de filme resulta bem quando existe um personagem carismático (no caso da "Cidade de Deus" terá sido o Dadinho) que cative o público. Poder-se-ia dizer que essa personagem seria o médico, mas penso que daqui a um ano ninguém se lembrará dele, enquanto que do Dadinho todos nos lembraremos: "O meu nome não é Dadinho, o meu nome é Zé Pequeno..." Mesmo assim, não dei o meu tempo como perdido ao ir ver este filme.