Um país à beira de um ataque de nervos
P. B.
<BR/>Assim era em 1968, assim é hoje, quase 20 anos depois: os EUA precisam urgentemente de heróis.<BR/>Num país que cresceu, desde a sua fundação (há tão pouco tempo…), à custa de personagens heróicas, parece óbvio que os americanos de hoje ainda precisam dos tais seres com superpoderes, capazes de os convencer de que vivem na mais generosa e grandiosa nação do mundo. Não importa realmente se o tal "herói" tem poderes de espécie superior, a não ser um único: o da rectórica alentadora, capaz de arrastar consigo magotes de consciências ao som da algazarra de um desfile de campanha política. Assim era, e assim é. Em 1968, os EUA continuavam a enviar adolescentes de 19 anos para as fileiras do Vietname; hoje, trava-se a guerra, igualmente inconsistente, no Iraque. <BR/>Emilio Estevez sabe que a conjuntura política constrange os tais heróis. Sabe-o porque escolheu contar as últimas horas de um rei que o foi sem, no entanto, o ser (como Edward escreve nas paredes da cozinha do hotel Ambassador), colocando na berlinda a actual figura do panteão dos presidentes americanos, George Bush.<BR/>Com um elenco recheado de estrelas – apostámos que o ponto de partida do casting foi a escolha de actores democratas –, o enredo centra-se no último dia de campanha de Robert Kennedy à presidência. O cenário resume-se ao célebre hotel que já referimos, onde se passeiam Sharon Stone, Demi Moore (que juntamente com o marido, Ashton Kutcher, arrecadou uma das mais fracas personagens do filme), Harry Belafonte, Anthony Hopkins, Laurence Fishburne, Helen Hunt, Freddy Rodriguez, entre muitos outros. É neste espaço que todos se cruzam, vivem os seus dramas pessoais, preparam para festejar a desejada vitória de Bobby. Uns convencem-nos, como Stone e Rodriguez, outros, nem por isso. <BR/>Mas o filme resulta. Não porque é brilhante, mas porque tem movimento, cor, drama, humor… e timing. Bem à maneira americana e à imagem do tal herói que morreu antes de cumprir as promessas feitas em campanha.<BR/>O realizador (neste caso, Estevez integra também o elenco) seguiu a tendência de muitos colegas seus actores de experimentar o trabalho atrás das câmaras. Saiu-se bem, mostrou-se eficiente e coerente. E, no final, não resistiu, deu a palavra ao quase-presidente e ofereceu-nos alguns minutos de puro discurso democrático, humanista. Uma saída politicamente correcta que é fácil perdoar, pois, nos dias de hoje, não são só os americanos quem precisa de alento para continuar a acreditar. Também nós, neste cantinho europeu, estamos necessitados de acreditar em heróis, de esquecer o défice e a polivalência laboral mal remunerada. E enquanto não vemos acções, vamo-nos agarrando às palavras.<BR/>Em tempos de crise, Bobby vale os suados 5 euros do bilhete.<BR/>
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