O Banho do Diabo
Título Original
Des Teufels Bad
Realizado por
Elenco
Sinopse
Alemanha rural do princípio do século XVIII. Agnes e Wolf (Anja Plaschg e David Scheid) são casados. Esforçada e dedicada, ela tenta corresponder às expectativas de todos, em especial às do marido, que parece querer afastá-la, e da sogra, que a acusa de não cumprir com as obrigações de esposa. Mas esse esforço é inglório e Agnes não se consegue adaptar à vida de casada nem às limitações que lhes são impostas devido à sua condição de mulher.
Co-produção entre a Áustria e a Alemanha, uma história sobre pecado e redenção que esteve em competição na 74.ª edição do Festival de Cinema de Berlim. Com assinatura de Veronika Franz e Severin Fiala, tem por base o livro "Suicide by Proxy in Early Modern Germany: Crime, Sin and Salvation", da autoria de Kathy Stuart.
Esse livro e este filme abordam o chamado “suicídio por procuração”, um problema social ocorrido na Alemanha durante o século XVIII, quando um número substancial de pessoas suicidas cometia assassinatos com o objectivo explícito de serem executadas, evitando assim o suicídio, que pressupunha condenação eterna. PÚBLICO
Críticas dos leitores
4 estrelas
José Miguel Costa
"O Banho do Diabo", co-produção entre a Áustria e a Alemanha (galardoada com o Urso de Prata no Festival de Berlim) dirigida pela dupla de cineastas austríacos Veronika Franz e Severin Fiala, é um drama familiar histórico (baseado em factos reais) com uma ambiência de terror folk que explora as temáticas da solidão, depressão, suicídio e fanatismo religioso no seio de uma misógina sociedade patriarcal.
A acção recua até à rural Europa Central do século XVIII para dar-nos conhecimento de uma prática comum à época, levada a cabo sobretudo por mulheres, e que consistia na consumação de crimes graves com o objectivo de serem condenadas à pena capital, pois, desse modo, conseguiriam a absolvição do pecado, e consequentemente a "salvação" pós-morte, por parte da igreja, no momento anterior à execução da pena (o que não aconteceria se optassem pelo suicídio, acto implicaria o penar eterno nas trevas).
A personagem central, Agnes (Anja Plaschg), é uma pacata jovem ingénua, que após casar com um camponês de uma aldeia próxima, depara-se com a rejeição emocional e sexual por parte do dito cujo, para além da ostracização da restante comunidade, por alegadamente não cumprir eficazmente as tarefas inerentes à sua condição de mulher-objecto no matrimónio (nomeadamente, a obrigatoriedade de ser "parideira"), o que gradualmente degradará a sua saúde mental e a empurrará para "as mãos de Deus".
Realce-se a beleza da fotografia, que vai escurecendo (até tornar-se escura como breu) à medida que o estado anímico da protagonista vai perecendo.
Mergulho numa Europa rural de há séculos
Nazaré
É tão autêntico tudo o que se passa neste filme, que quase parece um documentário; mas tem uma história, um drama, é uma criação própria. Centra-se nos relatos históricos de duas mulheres na Áustria (na Idade dita "Moderna") condenadas à morte por assassínio, desenvolvendo no caso da segunda toda uma trama espiritual que a terá levado a esse destino.
Há quem lhe ponha o rótulo de depressão, pouco importa, o que vemos é uma mulher que com o casamento noutra terra se viu presa numa armadilha, pois tem por marido um menino-da-mamã que é incapaz de ver o seu sofrimento, causado primeiro que tudo por ele e pela mãe, e também pelos sinais macabros da existência naquela comunidade. Aliás, toda a insensibilidade dos que a rodeiam, ditada por imperativos de sobrevivência, é impressionante.
Esse percurso acaba por desembocar naquilo que, ironicamente, acabará por perpetuar a memória desta mulher. E chega-se à cena da confissão, que é tremendamente emocionante, do melhor que já vi em cinema. É uma fita intensa, algo pesada até, algo que merecia ser feito, e tão bem feito como foi aqui. Muito bom!
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