Na segunda metade dos anos quarenta do século passado, Robert Siodmak realizou uma mão cheia de filmes importantes do noir. Se o que gosto mais é “Dupla traição”, em 1949, com Burt Lancaster e Yvonne de Carlo, este “Assassinos”, realizado em 1946 e adaptado de um conto de Ernest Hemingway é também um filme memorável. Dois homens chegam a uma pequena cidade, procuram um empregado duma estação de serviço a quem chamam o Sueco, querem matá-lo. Avisado por um colega, o homem deixa-se ficar, a última coisa que lhe diz é :"I did something wrong once". A partir daqui a história segue a investigação de um funcionário de uma Seguradora intrigado com o seguro de vida do morto beneficiar uma empregada de um hotel sem qualquer relação com aquele homem, um pugilista “falhado” por causa de uma lesão numa mão. A história deste homem vai-nos sendo mostrada aos poucos, aquilo que vão contando sobre o Sueco a Jim Reardon (o investigador, interpretado por Edmond O`Brien), e é uma história que segue as regras do género: um homem que é preso no lugar da mulher por quem se tinha apaixonado, e que depois participa num arrojado assalto a uma fábrica, onde ela também é cúmplice; depois são as mentiras e as traições, o crime e o castigo. O destino a usar a personagens como marionetas. É o filme em que se estreou Burt Lancaster, e a mulher é interpretada por uma Ava Gardner ainda muito jovem. Siodmak usa esta estrutura narrativa fragmentada para criar uma ideia de distanciamento para os personagens; e é magnífica a fotografia de Elwood Bredell a desenhar os contrastes entre a luz e as sombras, sublinhando a amoralidade desesperada daqueles homens e daquela mulher, os personagens e a história que Reardon nos desvenda. Belo filme. (em "oceuoinfernoeodesejo.blogspot.com")