As Bestas

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Drama, Thriller 137 min 2022 M/14 23/03/2023 FRA, ESP

Título Original

Sinopse

Para fugir da agitação das suas vidas em França, Antoine e Olga compraram uma casa de campo numa pequena aldeia da Galiza (Espanha). Nesse lugar para eles tão especial, levam uma vida próxima da natureza, cuidando da horta e recuperando casas em ruínas com o intuito de para ali trazer mais pessoas. Mas essa tranquilidade termina quando se vêem envolvidos numa desavença com dois irmãos da vizinhança. E o que prometia ser uma vida simples e aprazível rapidamente se transforma num inferno. 
Realizado e escrito por Rodrigo Sorogoyen (“Que Dios Nos Perdone”, “El reino”), um “thriller” psicológico que percorreu vários festivais de cinema, entre eles o de Cannes, San Sebastián, Tóquio e Chicago. Nomeado para 17 Prémios Goya (Espanha), “As Bestas” venceu em nove categorias – entre elas o de melhor filme, realizador, argumento original e actor principal (Denis Ménochet). Foi também merecedor do César (França) de melhor filme estrangeiro. A história inspira-se em eventos reais que envolveram Margo Pool e Martin Verfondern, um casal alemão que se mudou para a aldeia de Santoalla, Galiza. Para além de Ménochet, o elenco conta também com Marina Foïs, Luis Zahera, Diego Anido e Marie Colomb. PÚBLICO

Críticas dos leitores

O que é incompreensível é imperdoável

Nazaré

Recriando uma história da vida real que aconteceu com um casal de holandeses que se instalaram numa aldeia entre Ourense e Ponferrada, esta fita é uma obra-prima de dramatização e mestria cinematográfica. Praticamente tudo aqui é cheio de significado, encadeamento, emoção, qualidade técnica, realismo; e o trio de personagens franceses é o ingrediente perfeito para, sem ter de envolver explicitamente as pessoas do original, trazer à mesma todo o mundo de contrários que os "europeus" significaram.

Citadinos e rurais, instruídos e ignorantes, naturais e estrangeiros — toda a série de opostos que, se não forem devidamente acautelados, deixam de parecer os estereótipos que são para parecerem a realidade que nunca serão. Pode passar despercebido o momento em que o francês diz que veio para ali para ser livre, mas esse é o maior insulto que o seu principal opositor podia ouvir, ele que sempre viveu agarrado àquela mesma terra sentindo-se como numa prisão. São tudo oposições que até poderiam ter evoluído para complementaridades, nomeadamente a presença dos franceses poderia ser vista como um enriquecimento para a comunidade. Mas há um factor externo, as diabo-eólicas que exploram o desamor de quem vive naquelas terras para comprá-las a um preço ridículo: com a miragem do dinheiro fácil, tudo se polariza.

A fita prossegue para a fase em que Olga assume o protagonismo. E nela surge mais uma oposição, a da filha, pois para ela a mãe já devia ter abandonado tudo aquilo, e por isso desembesta uma das piores explosões de má-criação que alguma vez testemunhei. Embora seja uma cena muito forte e impecavelmente montada, pareceu-me algo teatral e para mim é o ponto fraco desta fita. Por outro lado, a cena inicial mostra como dois homens (e um rabejador) conseguem dominar um cavalo. É uma antevisão de fortíssimo impacto para uma cena que irá acontecer mais adiante, a qual é apresentada de maneira mais convencional mas com paralelos óbvios, lançando imagens de alusão mútua com múltiplos significados. Um lampejo de génio. A quase ausência da igreja na vida destas gentes, face ao realismo que se vê em toda a fita, parece estranha. Até pode ser que seja por conta do ateísmo dos protagonistas (suponha-se), ou porque na Galiza as coisas são diferentes. Opções...

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As bestas

Fernando Oliveira

Há uma ferida aberta em “As bestas”. As pessoas que habitam aquela aldeia perdida nas serras da Galiza são como aquelas tão bem descritas na letra de Carlos T que Isabel Silvestre cantou em “A gente não lê”, mas que já sabem que há outra vida para além da rudeza e da desesperança da vida no campo. E a quem é oferecida uma possibilidade de tocar esse outro mundo. Uma Eólica quer comprar aquele lugar para aí “plantar” as torres que convertem o vento em energia. A ferida é aberta por aquele casal francês que “invadiu” aquele lugar para concretizar o seu sonho de uma quinta familiar e um projecto de recuperar casas abandonadas para chamar habitantes para o lugar. E que se recusa a vender o seu terreno. É este confronto entre o casal que “fugiu” da cidade para o campo, e os dois irmãos vizinhos que querem o contrário que abre esta ferida que Rodrigo Sorogoyen narra no filme. Fá-lo, ao mesmo tempo que não deixa de mergulhar num realismo sujo, tocando em vários géneros, há uma história de amor intenso a atravessar todo o filme, e há uma tensão que lembra os westerns: aquelas cenas na taberna lembram as cenas dos saloons, com a aguardente em vez do uísque e o dominó em vez do póquer. Há aquela espantosa cena , o “duelo” entre Antoine (o francês) e Xan (um dos irmãos), quando aquele “obriga” este a beber com ele e a conversarem. As palavras no lugar das balas, mas a ferirem tanto quanto elas. E se nos pode parecer que as bestas do titulo serão os dois irmãos, e a brutalidade de Xan (uma espantosa interpretação de Luis Zahera), e a crueldade insana de Lorenzo (Diego Anido), leva-nos a olhá-los assim (há também aquela rima cruel entre o momento inicial do filme e o momento que corta o filme em dois), há na personagem de Antoine (e Denis Ménochet é actor absolutamente extraordinário) uma paranóia apenas pressentida, uma desejo de confronto, uma violência que “vem” talvez daquele lugar. Apenas amansada pela mulher (Marina Foïs, também uma magnifica interpretação). O argumento de Isabel Peña leva-nos a um lugar em que todos os homens são bestas. A harmonia, como uma possibilidade, é nos dada pelas mulheres. Um filme tremendo.

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Irrepreensivel

João

A realização é irrepreensível. O filme vive de excelentes atores, que constroem personagens credíveis, e de excelentes diálogos. Há momentos de grande cinema, construídos precisamente por excelentes diálogos, que nos “agarram”. A trama é verosímil e atual, embora custe a acreditar existir tal atraso na Galiza de hoje - mas estamos a falar de uma Galiza muito interior e deprimida demograficamente. A tensão é permanente, e embora lento e longo, o filme nunca aborrece. Grande cinema espanhol, e europeu.

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O Melhor Filme do Ano

Lucas

Aqui tão perto, quase na mesma língua, na mesma paisagem, nas mesmas manias culturais. Um filme avassalador, de uma sensibilidade ímpar. Exemplo a seguir.

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4 estrelas

José Miguel Costa

"As Bestas", coprodução franco-espanhola dirigida pelo cineasta madrileno Rodrigo Sorogoyen, é um apelativo thriller rural (de ritmo lento) que mistura (com muita eficácia) alguns ingredientes dos géneros policial, terror psicológico e drama social. Mantendo uma atmosfera de constante tensão (sem "grandes picos", é certo!) aborda a temática da xenofobia direccionada contra os imigrantes europeus de "luxo", por estes possuírem um status social/económico superior aos nativos dos locais onde optam por "assentar arraial". A acção decorre numa pequena aldeia do interior da Galiza, cujos nada hospitaleiros habitantes "cerram fileiras" contra um pacato/passivo casal francês (Denis Ménochet e Marina Foïs) que decidiu abandonar o seu estilo de vida urbano para aí estabelecer-se e dar inicio a um pequeno projeto ecológico, sem fins lucrativos, que visa reabilitar algumas casas abandonadas da zona (compradas pelos próprios para o efeito) com o objectivo de atrair novas gerações para uma vivência autossustentável baseada na agricultura. No entanto, apesar de não terem sido recebidos de braços abertos, o verniz acaba por estalar em definitivo, passando estes a ser vítimas de actos bullying de intensidade crescente, quando uma empresa de energia eólica decide comprar grandes extensões de terreno na região (o que alegadamente implicaria um encaixe financeiro substancial para a generalidade dos residentes) e os forasteiros optam por não vender aquele que lhes pertence (o que inviabilizará a implantação do futuro empreendimento). Dê-se a devida ênfase ao óptimo elenco de actores (principais e secundários), capazes de dar corpo e envolvimento dramático a uma história banal.

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