Adeus, Idiotas
Título Original
Adieu les Cons
Realizado por
Elenco
Sinopse
Críticas Ípsilon
O ressentimento dá prémios
Quem julga o leitor que são os “idiotas” do título? Somos nós, somos eu e você, são as instituições, é a sociedade, são os “privilegiados”.
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A pandemia lançou o caos nas produções culturais um pouco por todo o lado, cancelando concertos, adiando exposições e arriscando a apresentação de obras sem que haja um calendário definido para a que o público as possa apreciar. O cinema é uma caso paradigmático, com filmes a não estrearem, outros a passarem directamente para televisão e ainda outros com lançamentos indefinidamente adiados. É o caso de “Adieu les cons”, o vencedor dos últimos Césares, os prémios do cinema francês. Estreado em 2020, é lançado em streaming em 2021 e estreia entre nós em Março de 2022…
Uma possível tradução para o título será “Adeus patetas!”, algo que só se percebe mesmo nos últimos segundos desta história algo absurda, que mistura humor negro, tragédia e romance. Tudo começa quando Suze Trappet, uma bela loira com pouco mais de quarenta anos, recebe a notícia de que já tem pouco tempo de vida, porque, sendo cabeleireira, andou a respirar lacas e cosméticos tóxicos... Lembra-se, então, de procurar o filho que teve quando adolescente e que entregou para adopção. Para tanto, dirige-se a algo semelhante a uns “serviços centrais de registo civil”, onde encontra um funcionário que resolve ajudá-la, Cuchas, génio informático com ideias suicidas. Depois de alguns momentos rocambolescos, encetam uma fuga à polícia, no que são acompanhados por Blin, um cego. E vai ser este trio improvável que tudo vai fazer para que Suze encontre o filho perdido…
Apesar do humor, quase sempre negro, com Blin a liderar o riso, a verdade é que “Adieu les Cons” é um filme que toca temas sensíveis, como o sentido que se dá à vida e a discutível virtude da modernidade. Nós realizámo-nos enquanto seres individuais ou só ganhamos sentido na interacção com os nossos semelhantes? Crescimento e desenvolvimento urbanos são dois conceitos coincidentes ou divergentes? À primeira pergunta, responde o destino das personagens, após cumprirem a sua “missão”. Quanto à segunda, Albert Dupontel, realizador, argumentista e actor principal do filme, responde-nos com um dos momentos mais belos do filme: Suze vai ao volante, com Blin a seu lado, que procura indicar-lhe, de memória, onde moraria o médico que assistira ao parto da primeira. E ele vai mencionando edifícios e locais que descreve como belos, mas onde a condutora apenas vê frios prédios de apartamentos ou anódinos centros comerciais que substituiram os primeiros.
É um filme que se estranha mas depois se entranha. Após a reacção de desconfiança quer pelo ‘nonsense’ do argumento, quer pelo comportamento bizarro das personagens, tudo começa a fazer sentido e o final deixa o espectador com um sabor agri-doce pela lógica inquestionável da conclusão mas também pelo destino algo precipitado e “injusto” das personagens. Dupontel conseguiu, aqui, um jackpot, ao elaborar um argumento original e muito bem conseguido, com uma realização perfeita, oscilando entre o dinamismo dos momentos de acção com a melancolia dos momentos mais pessoais, especialmente quando se envolve Cuchas, interpretado por ele, e Suze, uma magnífica interpretação da franco-belga Virginie Efira. Seria injusto esquecer Nicolas Marié, no fabuloso papel do tal cego, Blin, sempre na fronteira do cabotinismo, mas equilibrando-se magistralmente e que recorda o Dr. Strangelove, de Peter Sellers, no homónimo filme de Kubrick, .
Albert Dupontel já cá anda há bastante tempo, mas atingiu nos dois últimos filmes um patamar muito alto. É que antes deste tivemos “Até nos Vermos Lá em Cima”, uma história complexa e, até, macabra sobre os escombros da I Guerra Mundial e que venceu cinco Césares. Agora, com “Adieu Les Cons”, venceu sete. Serão nove no seu próximo projecto?
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