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A Prairie Home Companion - Bastidores da Rádio
Título Original
A Prairie Home Companion
Realizado por
Elenco
Sinopse
Robert Altman despediu-se com um filme sobre um programa de variedades de rádio que consegue sobreviver ao aparecimento da televisão. Meryl Streep e Lily Tomlin são as Irmãs Johnson, Yolanda e Rhonda, um duo "country" que resistiu ao circuito das feiras pelo país fora, e Lindsay Lohan interpreta a filha de Meryl, Lola, que tem a sua grande oportunidade de cantar ao vivo no programa mas acaba por se esquecer da letra. Kevin Kline é Guy Noir, um detective privado que já conheceu melhores dias e que agora trabalha como responsável pela segurança, e Woody Harrelson e John C. Reilly são Dusty e Lefty, os Old Trailhands, uma dupla de cowboys cantores. Juntemos Virginia Madsen como um anjo, Tommy Lee Jones como Homem do Machado e Maya Rudolph como a assistente de palco grávida e temos uma história divertida passada numa noite chuvosa de Sábado em St. Paul, Minnesota, onde os fãs fazem fila para entrar no Teatro Fitzgerald e ver "A Prairie Home Companion". Mas o que ninguém sabe é que a rádio WLT, onde passa o famoso programa, foi vendida a um grupo de empresas no Texas e o espectáculo dessa noite será o último. <p/>PUBLICO.PT
Críticas Ípsilon
Críticas dos leitores
A arte da fuga
Carlos Natálio - www.c7nema.net
Apesar de muitos predizerem, a cada filme que passa, o final da carreira de Robert Altman, "A Prairie Home Companion" é prova bastante para um certo refreamento no que concerne a vaticínios. Desde 1974 que Garrison Keillor, um verdadeiro "storyteller" inventor de novos "dias da rádio", mantém no ar o seu programa, cujo nome dá título ao filme de Altman. Aquele é um programa de rádio "à antiga", feito perante uma audiência, com "jingles" publicitários inventados, folhetins, números musicais, anedotas, entre outros eventos. Robert Altman, vislumbrando o potencial visual de um universo eminente radiofónico, mas também teatral, fez a partir do argumento do próprio Keillor um filme-homenagem a um certo tempo em que a rádio era rainha do entretenimento. E fê-lo mesclando personagens reais, como por exemplo a banda do próprio "show", com outros alter-egos artísticos, criados pelo próprio Keillor, que protagoniza o filme.<BR/><BR/>Mas "Prairie Home Companion", embora se queira afirmar como objecto de entretenimento musicado, cantado, representado, não se fica apenas pelo tributo a um universo esquecido. Antes se move (e como é essa a palavra decisiva para falar de "Prairie Home Companion") num espaço concebido para o estudo deambulatório de personagens, integradas em ambiente semi-controlado. Como tanto gosta aliás Altman de fazer (veja-se "Gosford Park" ou "A Wedding"). E neste acompanhamento de múltiplas personagens, acaba por se esbater a noção de protagonismo, pululando no filme uma série de performers que atravessam, naquela que é a linear linha narrativa do filme, a última emissão do programa "Prairie Home Companion", antes do espaço fechar portas. E se de certa forma não existe um centro humano dramático no filme, (e por isso, este nos pareça, a espaços, lento e despessoalizado), dele emergem o tempo e o espaço, enquanto entidades acarinhadas que guiam a obra.<BR/><BR/>Do tempo, diga-se que mantém uma continuidade próxima do tempo real - do início ao fim do programa (com excepção para um enquadramento inicial e final). Curiosa a forma como esse desdobramento, esse "tempo dentro do tempo", está mesmo presente na forma como estamos perante um filme nos dias de hoje, mas cuja acção real o "encaixota" propositadamente nos gloriosos tempos da rádio. Dependendo do ponto de vista, ou se admira um período brilhante e cristalizado no passado, ou se observa com bizarria, como que olhando para um bando de animais exóticos enjaulados "num zoo", como refere The Axeman, a personagem que vem encerrar o teatro.<BR/><BR/>Pelo espaço do teatro, a câmara de Altman deambula virtuosamente. E, seguindo personagens, diálogos, preparações, aquela não se confina ao palco, cortando antes o espaço, passando aos bastidores, estabelecendo um cá e um lá indistintos. Como o eram de certa forma os diferentes andares da casa em "Gosford Park" (mas aí com outras distinções de classe a habitá-los). Se num filme como "Parade" de Jacques Tati, projecto para televisão sobre um espectáculo circense, o "intestinal" do espectáculo, os bastidores, servem a acidez crítica, aqui trabalha-se a cumplicidade, a abolição de fronteiras. Fronteiras que não fazem sentido a pessoas que passam das lágrimas aos sorrisos por profissão e que tem a rotina dos anos a seu favor. Elemento especialmente visível na entrada inicial de G.K., no início do show. E porque há um lado teatral em tudo isto, Robert Altman dá-nos, número a após número, o espectáculo na sua integralidade, recusando o outro cá e lá previsível: a acção no palco e a reacção no e do público. Esta dinâmica é-nos ocultada, ficando o autor a dever-nos esse tal contra-campo reactivo.<BR/><BR/>Como que celebrando uma espécie de arte da fuga musical, "Prairie Home Companion" é um filme com muitas personagens, repleto de grandes nomes. Se bem que muitos daqueles são os artistas de rádio em palco, não nos parece que destes se queira arrancar grandes papéis. De destaque, apenas o talentosíssimo Garrisson Keillor como "host" do programa, Meryl Streep, uma das irmãs Johnson, e Kevin Kline em "overacting" interessante.<BR/><BR/>Finalmente, refira-se que não é casual que Altman, cada vez mais posto em causa nas suas capacidades (o projecto até contava com Paul Thomas Anderson como eventual substituto na realização, caso Altman já não fosse capaz de dar conta do recado) tenha feito um filme sobre uma afirmação de vitalidade, de palavra de resistência de um universo que todos crêem morto. A solução milagrosa/religiosa de "Prairie Home Companion" acaba assim por funcionar ironicamente como um ciciante último refúgio de um grande realizador. Nota: 8/10.
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