4 estrelas
JOSÉ MIGUEL COSTA
"A Espera" é um drama que nos relata um encontro insólito num espaço fechado (um soturno e isolado palacete rural na Sicilia), que se desenrola durante alguns dias e coloca frente a frente uma mãe enlutada (Juliette Binoche), num sofrimento atroz pela morte recente do filho, e a ex-namorada deste (Lou de Laâge), que vem visitá-lo, alegadamente a seu convite (sem sequer sonhar da tragédia, entretanto, ocorrida). Todavia, a solitária matriarca resiste em dar-lhe conhecimento da triste noticia, o que leva ambas (perfeitas desconhecidas, que nunca se haviam cruzado) a enredarem-se numa angustiante e complexa teia relacional. <br /> <br />É um filme intimo e delicado/elegante (com planos que parecem ter sido desenhados milimetricamente), que apesar de ser detentor de uma narrativa escassa e linear (povoada de silêncios), em momento algum esmorece o nosso interesse (pelo contrário, o suspense e a angustia vai-nos resgatando gradualmente), graças quer a um inteligente jogo psicológico do realizador quer à mestria das duas actrizes em confronto (que nos mantém num permanente estado de ambiguidade emocional - nunca chegaremos a descortinar se a mãe pretende proteger a jovem rapariga ou simplesmente "vampirizá-la", bem como se esta última é tão pura e imaculada quanto faz transparecer). <br /><br />Portanto, perante tal descrição facilmente se depreende que a grande força desta obra advém da prestação imaculada e visceral das actrizes que se complementam (e da Binoche outra coisa não seria e esperar). Mas não só, aliás, o seu principal mérito decorre da espectacularidade das imagens (o realizador - com apenas 34 anos -, nesta sua 1ª obra, brinda-nos, ao brincar com as sombras e a luz como poucos, com cenas verdadeiramente líricas e que constituem um orgasmo para a retina), pelo que é caso para afirmar "filho de peixe sabe nadar", na medida em Piero Messina trabalhou como assistente de realização de Paolo Sorrentino - o tal de "A Grande Beleza" e "Youth" (no entanto, não se pense que este limita a ficar à sua sombra, pelo contrário, o "discípulo superou o mestre", pois a beleza deste é mais clássica e atenta ao pormenor ao invés da, por vezes, excessiva estilização das imagens pop que, por norma, caracterizam o Sorentino). <br /><br />Destaque ainda para a banda sonora, uma verdadeira cereja no topo do bolo (e que inclui, por exemplo, The XX e Leonard Coen). <br /> <br />E se na 1ª obra já tivemos direito a tudo isto, ficaremos a aguardar com ansiedade pelo filme que se segue!
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