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A Conspiradora

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Drama 122 min 2010 M/12 21/07/2011 EUA

Título Original

The Conspirator

Sinopse

Washington, 1865. Durante a apresentação da peça “Our American Cousin” no Teatro Ford, Abraham Lincoln, o 16º presidente dos EUA, é assassinado por uma bala à queima-roupa. Oito pessoas são acusadas de conspiração, entre elas Mary Elizabeth Jenkins Surratt (Robin Wright), a proprietária da pensão onde os sete homens se reuniram para planear o rapto do presidente em troca da libertação de prisioneiros confederados, e que, tragicamente, culminou em morte. Apesar de sempre se declarar inocente, Mary Surratt torna-se o “bode expiatório” de uma nação sedenta de justiça e vingança. E é então que Frederick Aiken (James McAvoy), um advogado de 28 anos, ciente das dificuldades mas crendo na sua inculpabilidade, decide defendê-la em tribunal militar. Mas, mesmo conseguindo provar a sua inocência, conseguirá o jovem advogado salvar-lhe a vida? Um drama histórico, realizado pelo actor e realizador Robert Redford (“O Encantador de Cavalos”, “A Lenda de Bagger Vance”, “Gente Vulgar”) e inspirado num acontecimento verídico que se tornou um marco na história dos EUA durante os críticos anos da Guerra de Secessão. PÚBLICO

Críticas Ípsilon

Da justiça como paliativo

Luís Miguel Oliveira

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Críticas dos leitores

Um filme magnífico

egas branco

<p>Não são muitos os grandes actores que conseguem passar à realização com a mesma qualidade. Robert Redford, tal como o saudoso Paul Newman, é também uma excepção brilhante, aliás ambos com filmografias notáveis Este filme é um belo exemplo do cinema vindo do lado a que os norte-americanos chamam liberal (num sentido de democrata ou de esquerda). Violenta denúncia da manipulação da justiça a favor de um poder conservador, cujas semelhanças com actualidade são por demais evidentes, nos EUA e não só. Obra magnificamente realizada, com o classicismo habitual no cineasta, e com uma excelente direcção de actores (aliás muito bons, vendo-se actores, que são personalidades progressistas na vida real, a fazer aqui o papel de gente sem escrúpulos, ao serviço do poder autoritário, que não respeita a democracia...). Um tal tema arrosta certamente com o desagrado de muitos, que se podem sentir de algum modo retratados, embora Redford vá certamente só até onde pode. Interessa-lhe, parece-me, mais que o episódio histórico a questão do respeito pela Democracia, tantas vezes ameaçada e violada no seu país. Uma bela obra a não perder. (4****)</p>
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A Conspiradora, um filme magnífico

egas branco

<p>Não são muitos os grandes actores que conseguem passar à realização com a mesma qualidade. Robert Redford, tal como o saudoso Paul Newman, é também uma excepção brilhante, aliás ambos com filmografias notáveis Este filme é um belo exemplo do cinema vindo do lado a que os norte-americanos chamam liberal (mas aqui num sentido de democrata ou de esquerda). Violenta denúncia da manipulação da justiça a favor de um poder conservador, cujas semelhanças com actualidade são por demais evidentes, nos EUA e não só. Obra magnificamente realizada, com o classicismo habitual no cineasta, e com uma excelente direcção de actores (aliás muito bons, vendo-se actores, que são personalidades progressistas na vida real, a fazer aqui o papel de gente sem escrúpulos, ao serviço do poder autoritário, que não respeita a democracia...). Um tal tema arrosta certamente com o desagrado de muitos, que se podem sentir de algum modo retratados, embora Redford vá certamente só até onde pode. Interessa-lhe, parece-me, mais que o episódio histórico a questão do respeito pela Democracia, tantas vezes ameaçada e violada no seu país. Uma bela obra a não perder. (4****)</p>
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A Conspiradora

Paula Dias

Nada mau.
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Injustiça, pela mão da Justiça

Nazaré

<p>Robert Redford, que é um distinto actor, não é menos como realizador, assinando filmes "de fôlego" com uma atenção aos detalhes e uma mestria de encenação invulgares. Neste continua ao mesmo nível, fazendo os seus actores e actrizes estarem ao seu melhor (o que, por exemplo em McAvoy e Kline, é do melhor que se pode esperar). E o realismo dos "décors", da caracterização das personagens, das falas e comportamentos, é dum tal rigor que nos sentimos convencidos de estarmos a viver aquele tempo e aquele lugar, ainda melhor do que no já de si notável "True Grit".<br /><br />A história em si, bem... não me seduziu lá muito, confunde-se demasiado com as centenas de filmes de tribunal, com investigação criminal à mistura, ou os de política a interferir com a verdade. Era um tempo traumático, com a Guerra de Secessão ainda a decorrer, quando Lincoln (aqui, acho que pela primeira vez num filme, identificado com tirania) foi assassinado. O que é abundantemente invocado para servir de fundo ao que este filme tem de maior interesse: a noção de que a Justiça (militar ou civil) é uma marioneta ao sabor de quem na ocasião a consegue manobrar - algo que depende apenas da lei do mais forte - onde de nada servem os eloquentes apelos à razão por parte da personagem de McAvoy, que virá a ser um dos fundadores da redacção do Washignton Post (e cuja alegação final é dum brilhantismo digno de ser recordado a quase 150 anos de distância). <br /><br />Esta contorção da Justiça é algo que sabemos existir em todo o lado, mas nem sempre é denunciada como este filme consegue fazer.</p>
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Um filme pedagógico, informativo, que toda a gente deveria ver

Ivo Miguel Barroso Pêgo

<p>Um filme pedagógico, informativo, que toda a gente deveria ver, sobre o direito a um julgamento justo e imparcial, mesmo em tempo de guerra; e como esse direito é insuspensível, mesmo em presumido "estado de excepção" (o que até só muito tenuemente era o caso, uma vez que a guerra estava praticamente ganha).<br />(Ao contrário do colega Pedro Vardasca, não creio nada que a questão da pena de morte seja tocada. O filme não é um libelo - pelo menos, abertamente - contra a pena de morte; o facto de se demonstrar a crueldade dessa pena decorre da sua natureza intrínseca).<br />O que está em causa não é o direito à vida, mas o direito a um julgamento imparcial, a instituição do tribunal do júri (tipicamente norte-americana; aqui, o filme é "pro domo"); a um processo justo ("due process of law") e o direito a um recurso efectivo.<br />(Um filme que o Presidente Obama deveria ver com muito cuidado, atentas as suas declarações sobre o assassínio de Bin Laden).<br />Demonstra também muito bem a fragilidade de tribunais especiais militares com competência criminal; ainda para mais para julgar civis.<br /><br />O filme explica bastante bem as questões filosóficas, éticas e jurídicas (nesse sentido, é muito mais rico do que, por exemplo, o filme "Homens do Presidente", de Redford e Dustin Hoffmann sobre o caso Watergate): <br />Tem a frieza de explicar ambas as visões (embora a narração omnisciente seja apenas a do lado da defesa) e a convicção com que a visão oposta, da "raison d'État", é defendida por muitos, desde logo por Stanton; e como a guerra suspende o Direito ("inter armas silent leges", como o Procurador cita).<br /><br />O filme demonstra como o poder executivo e a política não se devem imiscuir na justiça (no caso, para além da nomeação dos juízes do tribunal marcial pelo Secretário de Estado da Guerra, Stanton; a manipulação de testemunhas; os direitos dos reclusos; as arbitrariedades em relação à inquirição de testemunhas e à "escolha" dos arguidos (Mary Surratt, não responsável, mas muito conhecida pela opinião pública, a ser julgada (isto em detrimento de duas testemunhas da Acusação, que mudaram de lado, e que praticaram actos criminosos, mas que eram pouco conhecidos); a mutilação das testemunhas de defesa (aspecto pouco explorado); ainda assim, depois de o veredicto ser mais favorável a Mary Surratt, a interferência no sentido da pena máxima; e nova intervenção, desta vez do Presidente, revogando um "writ" de um juiz, que pretendia um novo julgamento civil, por um tribunal do júri). <br />O filme pugna pela supremacia da Constituição e pela judicialização da Justiça (a referência inicial ao regresso da Inquisição ou pactuar com ela é muito bem escolhido).<br />Contra as pré-compreensões clausuladas por sentimentos humanos, como a vingança, quer de um lado quer de outro, em tempos de guerra (pois o filme começa com a vingança de um grupo de sulistas, encabeçados pelo actor John Wilkes Booth, contra membros do Executivo).<br /><br />O filme demonstra como o Prof. Jorge Reis Novais tem razão: os direitos fundamentais (de liberdade, a meu ver) são trunfos contra a maioria.<br /><br />Que o Direito renasce, a cada violação (Ihering); e conduz a alterações do Direito positivo. <br />Daí que, após esta situação, de a Justiça "bater no fundo", o Supremo Tribunal Federal tenha reconhecido, como direito implícito o direito de um julgamento imparcial, pelo tribunal do júri<br /><br />Um filme bom.<br /><br />Realização: muito bem realizado por Robert Redford.<br /><br />Actores: <br />principais: não achei brilhante o actor que faz de advogado; mas bem, até bastante bem, a que faz de Marry Surrat (Robin Wright)<br />O melhor actor secundário é o que faz de Procurador da Acusação; curvado, gordinho; faz perfeitamente credível e convincente.<br />Também em bom plano, um Stanton (Sec. de Estado da Defesa), protagonizado por um Kevin Kline irreconhecível; e também Justin Long.<br /><br />O filme demonstra também a fragilidade, "de jure condendo", de aspectos do Direito Penal anglo-saxónico substantivo; designadamente, da incriminação da conspiração, no Direito Penal anglo-saxónico (para mais desenvolvimentos, v. Ivo Miguel Barroso, O acordo com vista à prática de genocídio, in Estudos em homenagem ao Prof. Doutor Inocêncio Galvão Telles, V, Almedina, Coimbra, 2003).<br />Mas há uma falha imperdoável no filme: deixar no ar factos mais que estudados e conhecidos: por ex., a ausência de responsabilidade de Mary Surrat na conspiração para matar o Presidente (ora, existe ausência de criminalização da cumplicidade por omissão); mas a sua participação na conspiração para raptar o Presidente;<br />a responsabilidade de John Surrat; participou na conspiração, foi cúmplice da preparação, mas desistiu; essa desistência levaria à sua não punição na conspiração para matar o Presidente.<br /><br /><br />Em termos estéticos: <br />O filme começa muito bem, a narrar rapidamente os factos da noite de 14 de Abril de 1865, dos assassínios do Presidente Lincoln, do Secretário de Estado e da tentativa de assassínio do Vice-Presidente.<br />Depois, a partir daí o filme começa com um rol de cenas pouco conseguidas, muito descritivas (embora obedecendo à verdade histórica, é certo), desde a 1.ª visita do Advogado à prisão. <br />O filme tem muitos altos e baixos, em termos cénicos (embora com imagem e realização impecáveis). <br />As fragilidades do filme residem, principalmente - descontada a fase de acção inicial, muito boa - em ser muito descritivo:<br />i) em perder-se em factos acessórios; contei, pelo menos, cerca de cinco ou seis episódios que só desviam as atenções da História principal. Ora, a obra deve ser simples e una, formando um todo (ARISTÓTELES, Poética, VI-VII 1450 b ss.; HORÁCIO, Arte poética, versos 1-37); falta unidade ao filme; HORÁCIO censura tudo o que não tenha íntima conexão com o tema poético, tais como digressões extemporâneas (HORÁCIO, Arte poética, introdução, tradução e comentário de R. M. ROSADO FERNANDES, 3.ª ed., Inquérito, Lisboa, pg. 52 (nota do Tradutor); (ARISTÓTELES, Poética, cap. VIII, e HORÁCIO, Arte Poética, versos 131-152) consideram ser de seguir, de preferência, o exemplo de HOMERO, que reduz as suas obras a uma acção una, sem pretender obter essa unidade pela apresentação monótona de uma só personagem (HORÁCIO, Arte poética, introdução, tradução e comentário de R. M. ROSADO FERNANDES, 3.ª ed., Inquérito, Lisboa, pg. 75 (nota do Tradutor)).<br />ii) o filme espalha-se a dizer coisas que não vêm a propósito (cfr. HORÁCIO, Arte poética, introdução, tradução e comentário de R. M. ROSADO FERNANDES, 3.ª ed., Inquérito, Lisboa, pg. 58 (nota do Tradutor), em atirar factos que, depois, não aproveita (por ex., a alegada vingança contra o Advogado, que não concretiza; quem atirou as pedras à casa da filha, Anna Surrat).<br />iii) no seu excessivo realismo. Falta-lhe, como hei-de explicar, alguma ousadia, para ir para além dos factos. <br />iv) Em cenas muito pouco conseguidas, devido aos tais factos acessórios. Mas também conta com boas cenas: a parte inicial é excelente; a cena em que aparece uma feira de venda de objectos de Lincoln; a cena do enforcamento também.<br /><br />Por isso, daria nota 15 ao argumento ("screenplay").<br /><br />Ou seja, o filme fica aquém da matéria-prima.<br />Com muito menos, "Uma questão de honra" deu um filme melhor do que este.<br /><br />Daria nota de 17, pela intenção pedagógica (e pela minha pré-compreensão jurídica coincidente).</p>
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Um fracasso estridente

Pedro Vardasca

<p>O sobrevalorizado actor Robert Redford também se diz realizador, como acontece no recém-chegado "A Conspiradora". Os factos do filme não são propriamente marginais, pois centram-se num momento muito doloroso da história norte-americana: o homicídio do presidente Abraham Lincoln pelo anti-abolicionista John Wilkes Booth. O título refere-se exactamente à participação de Mary Surratt, mãe de um dos radicais, no plano assassino.<br /><br />Para qualquer um, a matéria seria mais do que suficiente para a confecção de um razoável entretenimento mas, aparentemente, Redford não se julga qualquer um. Não lhe bastava fazer um filme de tribunal, género muito apreciado pela generalidade do público, por isso escolheu a seriedade da política, carregando as suas personagens de uma intensidade que redunda numa dicotomia simplista entre a defesa - depositária da visão liberal do realizador - e a acusação, guardiã da existência física da jovem nação. Pelo meio, parece correr ainda o libelo contra a pena de morte, outra causa importante no seio do pensamento liberal norte-americano. <br /><br />Por isso, não é de admirar que mesmo os distraídos entrevejam aqui uma tosca analogia com o processo de Guantánamo, que levantou com precisão a torrente de interrogações que "A Conspiradora" vai amontoando. Quem preferir a livre especulação pode até vislumbrar na personagem interpretada por Kevin Kline a figuração do antigo Secretário de Estado da Defesa Donald Rumsfeld, o alvo preferido dos opositores da política externa do presidente Bush.<br />Claro que tudo isto não suscitaria grandes problemas se Redford apresentasse o engenho necessário para a construção de uma reflexão inteligente sobre os limites das democracias, porquanto não é possível negar a existência de problemas relevantes na definição de um justo equilíbrio entre as liberdades individuais e a sobrevivência dos estados parlamentares num quadro de ameaças fundadas em motivações longínquas ao Direito. No entanto, a realização não vai além do traço grosso, abundando as tiradas grandiloquentes sobre, por um lado, a defesa da Constituição legada pelos pais fundadores e, por outro, a intransigência perante a conspiração, que é gerida fora dos preceitos constitucionais.<br /><br />Nunca saberemos claramente o que se objectivava, mas "A Conspiradora" jamais abandona a condição de panfleto, o que menoriza dramaticamente a capacidade de ponderar sobre qualquer assunto. Porventura, ninguém terá lembrado Redford que a participação em filmes políticos como "Os Três Dias do Condor" e "Os Homens do Presidente" é uma experiência manifestamente insuficiente para um desenlace aceitável como responsável na realização. A verdade é que não é Pollack e Pakula quem quer e a subtileza destes não está, definitivamente, inscrita na arte de Redford.</p>
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