Maryam é uma jovem adulta saudita qualificada (médica); "moderna" (imagine-se que até conduz um carro - algo que o seu país vedou às mulheres até 2018); espevitada (sem receio de vincar as suas opiniões e ambições); e uma muçulmana convicta (tanto que esconde o seu bonito rosto dos olhares indesejados com uma indumentária tradicional). <br />No entanto, nem tais atributos lhe granjeiam respeito junto da comunidade, pelo que todos os dias se confronta, tal como as restantes, com o preconceito de um Estado ultra-patriarcal que a(s) considera como mero objecto à mercê da vontade do omnipresente (e todo poderoso) Macho, impondo-lhe(s), por esse motivo, múltiplas restrições absurdas. <br />Num dos (muitos) dias em que se sentiu diminuida (neste caso por não conseguir viajar para o Dubai, devido à falta da necessária autorização para o efeito por parte do pai, dado ainda encontrar-se solteira), e por mero fruto das circunstâncias, acaba por candidatar-se a presidente da Câmara (o descaramento e o horror!). Incongruentemente, inicialmente não aproveita a exposição mediática para enaltecer o papel das mulheres, ao invés, o seu principal cavalo de batalha cinge-se ao alcatroamento da estrada frente ao hospital no qual labora.<br />Grosso modo, é este o enredo do filme "A Candidata Perfeita", através do qual a realizadora saudita Haifaa Al Mansour denuncia "ordeiramente" (e com humor à mistura) a condição da Mulher, optando, desse modo, por um registo mais ilustrativo do que propriamente "anti-sistema" (e tal caracteristica poderá ser encarada, simultaneamente, como uma critica positiva e negativa, consoante a abordagem que escolhamos para esmiuçá-lo). <br />Inevitavelmente tal retira-lhe espessura dramática, ainda mais se considerarmos que estamos perante um pretenso drama poltico. Mas talvez um produto desta natureza já seja audaz em demasia para a cidadã de um país que pune ferozmente os seus opositores politicos.