Filme mal feito; uma grande desilusão, um flop
Ivo Miguel Barroso
<p>Filme "A dama de ferro"<br />Filme que é uma grande desilusão.<br /><br />Supostamente, é uma biografia de Tatchter.<br />Só que a contradição começa logo no título do filme: "A dama de ferro" não corresponde, de modo algum, ao desempenho protagonizado por Meryl Streep, que demonstra sentimentos de pertença à família e aos valores tradicionais, bem como às suas origens humildes.<br />O título, é, pois, enganador.<br /><br />O início é penoso e banal, com uma narrativa em constantes idas e vindas do final da vida de Thatcher.<br />Por aí, o filme perde, pelo menos, mais de meia hora, com coisas completamente triviais e dispensáveis, sobretudo na economia cinematográficas. <br />O filme perde imenso tempo, com a doença mental de Tatcher e com as aparições que ela vê do marido. Aí, são consumidos 20 minutos, perfeitamente inúteis. <br /><br />É um filme com um argumento sofrível (9 valores) e um guião ainda pior (8 valores).<br />É um filme sem qualquer intensidade.<br />Começa com Thatcher retirada da vida pública, no declínio; saltita para os inícios da sua carreira política. O filme começa a ficar mais glamoroso, a partir do momento em que ela foi Ministra da Educação (isto passada quase uma hora de filme).<br /><br />O filme é um constante vaivém de sequências temporais, de Tatcher no declínio, de Tatcher na juventude (com uma actriz diferente); de Tatcher na vida governativa.<br />O filme chega a confundir estes três momentos temporais e a saltitar por eles, como se nada fosse. <br /><br />É um filme sobre uma política, mas quase apolítico.<br />Desde logo, é bastante nebuloso em relação à história de Thatcher, durante os anos em que foi Primeira-Ministra. Uma pessoa que não conheça a história recente do Reino Unido fica sem saber muito mais do que os inúmeros factos, atirados em catadupa para o espectador. <br />Não se percebe como é que ela ascende a Primeira-Ministra; como é que procedia politicamente; os contornos do seu afastamento forçado do cargo de Primeiro-Ministro. Nada se fica a saber de concreto.<br />O filme resume-se a uma oratória de frases balofas, gerais e pouco esclarecedoras.<br /><br />A pessoa fica sem qualquer ideia sobre como é que esta mulher ascendeu à chefia do Governo, sobre os bastidores da política, sobre como a política britânica funciona. E Tatcher foi uma política exímia. <br />O filme é, pois, uma má homenagem a Margaret Thatcher. Não demonstra a sua energia, o seu trabalho como Primeira-Ministra. O filme dá a sensação, completamente errada, de que um Primeiro-Ministro quase não tem muito trabalho; o que é absolutamente falso. Ser Primeiro-Ministro, sobretudo de um país como o Reino Unido, é um cargo desgastante.</p><p><br />Por outro lado, há uma grande lacuna do filme: fica sem sem se perceber quais, afinal, as ideias políticas de Tatcher. Nem sequer se fala em neoliberalismo, no regresso ao liberalismo, que Tatcher tentou implementar. <br />O filme é, nesse plano, paupérrimo. Parece resumir-se a uma mera oratória de declarações políticas. <br />Só se ouve algumas coisas sobre sindicatos, sobre o trabalho e sobre a determinação de Tatcher, revelada pela oratória, mas com muito pouco sumo. <br />O filme perde-se em frases soltas, desenquadradas do contexto; em pequenos pormenores da vida de Tatcher, sem qualquer interesse relevante e que não são aproveitados mais adiante, ao longo do filme. Ou seja, o filme está mal feito.<br /><br />Não há cenas memoráveis neste filme.<br />Talvez a melhor sequência seja a da intervenção militar nas ilhas Malvinas.<br /><br />É um filme muito descolorido, sem ideias, com muito pouco sumo.<br />Nem sequer é um bom documentário histórico. As personagens que rodeavam Tatcher estão extremamente mal caracterizadas. <br /><br />Quanto ao desempenho, é de salientar a excelente actuação de Meryl Streep.<br />Só que, em minha opinião, se foi completamente fiel a Tatcher no estilo, não o foi no seu conteúdo e na sua forma gélida, firme, política de agir. Mas, aí, o defeito estará, mais, porventura no argumento, no guião e na realização.<br /><br />Poderia ter sido um grande filme. <br />Dá a ideia de que foi encontrada uma pérola, mas que ela foi atirada fora e feito um filme sem qualidade, que rapidamente ficará esquecido.<br /><br />Ivo Miguel Barroso</p>
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