Sinédoque, Nova Iorque

Votos do leitores
média de votos
Votos do leitores
média de votos
Comédia Dramática 124 min 2008 M/12 20/08/2009 EUA

Título Original

Synecdoche, New York

Sinopse

Caden Cotard, encenador de teatro, está a trabalhar numa nova peça - mas tudo parece retirar-lhe a atenção. A mulher deixou-o e foi viver para Berlim, onde continua a pintar, e levou com ela a filha de ambos. Madeleine, a sua psiquiatra, está mais preocupada com a promoção do seu novo livro do que ouvi-lo. E a relação que tem com a jovem Hazel também não vai de vento em popa. <br />E, para piorar tudo, sente-se doente com uma misteriosa doença que ataca o seu sistema nervoso. Aterrorizado perante a ideia da sua própria morte, Caden decide deitar tudo para trás das costas e, aspirando criar uma obra de uma integridade absoluta, reúne um grupo de actores em Nova Iorque... PÚBLICO

Críticas Ípsilon

Sinédoque

Mário Jorge Torres

Ler mais

Sinédoque, Nova Iorque

Vasco Câmara

Ler mais

Os limites do controlo

Jorge Mourinha

Ler mais

Críticas dos leitores

kaufman

Roberto Leiria

Mais um óptimo argumento de Charlie Kaufman. Um filme fantástico.
Continuar a ler

grande simulacro

joe strong

“O Grande Simulacro” Chamar-lhe-ei “ponto da situação”. Refiro-me à cena em que Caden Cotard (Philip Seymour Hoffman), encenador de teatro, e Sammy Barnathan (Tom Noonan), seu “duplo”, se encontram na varanda de casa do primeiro, contemplando “uma” Nova Iorque inesgotável na sua energia, plena de luz e turbulência. “Ponto da situação” porque é, se não a primeira, pelo menos a mais evidente pausa narrativa do filme; “Ponto da situação” porque vemos distintamente as marcas do tempo em Caden, enfatizadas pela(s) bengala(s) em que suporta(m) o peso do corpo; chamar-lhe-ia ainda “Ponto da situação” porque, para além de acontecer numa zona nevrálgica da narrativa e de permitir criar um “lugar” de despressurização (diria até de reflexão, lugares de cuja ausência se ressente o resultado final do filme), alude (ou permite, pelo menos, a analogia) a uma eventual remissão cinematográfica: não serão o carácter “superlativo” a que tudo se “reduz” e a obsessão pela duplicação (ou multiplicação) caracteres de um potencial neo – expressionismo? Aparentemente paradoxal, servirá ao texto alumiar a expressão nesta fase: o carácter superlativo “de tudo” sugere uma existência que perdeu o seu centro, que abandonou uma lógica dicotómica para abraçar o definitivo, o absoluto – o superlativo: é assim quando à vida, tal como a conhecemos, é imposta uma nova forma de existência, que a não equilibra, antes a quer substituir, “reduzir” (daí a duplicação, como possibilidade de uma “nova vida”). A obsessão de Caden, de “exaurir a vida”, e transpor para o gigantesco projecto teatral que dirige todas as suas [vida] manifestações (ou movimentações), “confunde” a verdadeira existência, substitui-a: a redução da vida ao seu carácter superlativo equivale à criação de um Simulacro. A grande peça projectada por Caden Cotard, o “grande simulacro”, será então o lugar de “des-realização” do real, a criação de “um tempo sem tempo”, ideia reforçada pelo relógio desenhado numa parede do (monumental) estúdio, que aparece num dos planos finais do filme: um relógio estagnado, indelével, límbico. Na personagem de Caden Cotard convergem dois tipos de “fuga” ao real: a romântica e a expressionista, em estreita colaboração. Será a percepção do carácter efémero da vida a condicionar a experiência do romance em Caden? Ou é a dificuldade em se relacionar que motiva uma percepção acelerada do tempo? Para o encenador, tudo acontece numa lógica de “desaparição”, de redução a nada. Na “fuga” (neo) expressionista, Caden encontra na criação do grande Simulacro o “lugar” de salvação, onde a morte é iludida, e a sua inevitabilidade contornada. A “fuga” romântica corresponde à consciência da finitude de tudo, e consequente “entrega” à imaginação: com Adele (Catherine Keener), Hazel (Samantha Morton) e Claire (Michelle Williams), Caden experimenta três tipos de amor, respectivamente o impossível, o romântico e o físico, sendo a sua experiência [amor] tanto mais “eficiente” e intensa quando menos corporal – a cena do Peep Show, onde observa a filha tatuada a dançar, reforça a ideia do amor enquanto proibição, e da imaginação (platonismo) enquanto “lugar” de realização amorosa. Kaufman adopta da arquitectura gótica a noção de “desmaterialização da pedra”, em que era “proclamado” o espírito através da construção de edifícios de grande extensão vertical. A monumentalidade dos edifícios de Nova Iorque, bem como do estúdio, “corpo” do simulacro, obedecem antes de mais a uma “provocação” da lei da gravidade, ou seja, da natureza. Esta “ideia” neo-expressionista / gótica surge reforçada se regressarmos ao “Ponto da situação” abordado atrás; enquanto Caden e Sammy contemplam a cidade de Nova Iorque, soma-se à profusão hiperbólica do desenho da cidade um Zeppelin, aparelho voador de enorme extensão, deslocado tanto no tempo como no espaço, manifesto do poder infinito da imaginação (que neste caso equivalerá à imortalidade). Dá ideia que teria ganho mais, Kaufman, se à acumulação obsessiva de factos (quando acaba o texto, quando começa Kaufman?) opusesse, ou houvesse oposto, mais centros onde alicerçar informação. O ritmo intenso acaba por ser nocivo. Tal como o final “apocalíptico” sugere a “independência da máquina”, numa encenação que a si própria se governa (em direcção ao superlativo, à substituição definitiva), também o filme parece descontrolar-se, “fugir” à vontade do seu criador. Faria sentido, mesmo num universo tão invulgar, a exploração da dimensão “psicológica” de Caden, ou de “outra” dimensão psicológica da personagem, representada por um incólume Philip Seymour Hoffman (Kaufman volta a revelar talento na construção de situações desconfortantes, como já tinha feito em “Inadaptado” e “Quem quer ser John Malkovich?”, como aquela em que a família Cotard conversa no carro, e peca por não as explorar). Os planos sucedem-se obedecendo a uma lógica elíptica, descontinuada, onde os movimentos, pequenas metáforas da vida, são constantemente interrompidos; resultam muito bem as elipses em cenas separadas, ou no espaço “intra-cena”, mas não na montagem final, onde haveria a necessidade, como já disse, de mais apoios “centrais”, mais lugares “de regresso” que permitissem adicionar informação. Na sua estreia enquanto realizador, Charlie Kaufman adiciona à incandescência habitual dos seus textos (chamar-lhe-ei o “absurdo barroco”), uma dimensão abstracta, filosófica; no entanto, peca este “desenvolvimento” por falta de rigor na realização, não tanto na captação de imagem mas mais na mesa de montagem. Porque há “sumo” a extrair de “Sinédoque, Nova Iorque”, que talvez pareça azedo demais na amálgama de ideias que o não torna apetecível, que lhe esconde o sabor. É possível, por exemplo, pensar a personagem de Caden enquanto uma manifestação corrente de Nosferatu, esse ser cataléptico. Será esse limbo (entre texto e realização?) mais bem explorado da próxima vez?
Continuar a ler

A parte e o todo

Carlos D Silva

“Viver não custa, custa é saber viver” é bem um provérbio que deveria ser alterado, olhando a vida como sugere a realização do filme. Viver custa bastante e a busca por saber viver pode transformar-se num exercício inglório, senão mesmo um exercício demente. Sabe a pouco a forma como no filme se desenvolve a metáfora teatral, mas acho que o filme tem interesse como convite a uma reflexão sobre a vida que temos e de como em muito, depende das vidas que construímos com as nossas (e as dos outros) decisões constantes. Depois, dá gosto e gozo ver a interpretação de um excelente grupo de actores, em que Philip Hoffman se supera.
Continuar a ler

Envie-nos a sua crítica

Preencha todos os dados

Submissão feita com sucesso!