Uma história aparentemente simples com uma escrita fílmica irrepreensível e interpretações excelentes lança-nos num abismo emocional. Afinal é possível (ainda) um filme ser absolutamente comovente e inesquecível.

<p>A história de um rapaz institucionalizado que na busca incessante pelo pai (que o abandonou - facto q ele não aceita como verdadeiro) encontra uma "mãe". Rapaz esse que, de tão deslumbrante que é na sua interpretação (genuína e inocente), faz com que o filme só por si já tenha motivos de sobra para ser visionado.<br />Trata-se de uma película de cariz social (como o são todas as pertencentes a esta dupla de realizadores), no entanto, não embarca no registo do coitadinho a quem tudo na vida corre mal e q termina em tragédia total, nem tão pouco opta pelo argumento do desgraçadinho que um dia encontra uma "fada madrinha" e q a partir de então tudo fica "cor-de-rosa" e vive feliz para sempre. Embora também seja verdade que no mundo real não é fácil encontrar uma pessoa tão "humana", tolerante e compreensiva quanto esta candidata a "mãe adoptiva", todavia, neste caso esse "não realismo" até nem é negativo, antes pelo contrário, pois através dele os realizadores tentam (digo eu) demonstrar como "situações limite" podem ser revertidas, caso haja disponibilidade, entrega e perseverança por parte de outrem.<br />Em suma estamos perante uma tocante (mas, não lamechas), bem como didáctica, história de amor pelo próximo.</p>

<p>Experientes na direcção de actores jovens, os irmãos Dardenne têm em "O Miúdo da Bicicleta" mais um nome emergente: Thomas Doret. Era fundamental que assim fosse para dar uma maior "credibilidade" à história contada, que se resume a um pai que enjeita um filho - embora nunca saibamos os "detalhes" de tal recusa.<br /><br />"Não tentes voltar a ver-me" seria a última coisa que Cyril queria ouvir do seu pai biológico. O mundo parece desabar nesse momento e Cyril torna-se "executor" de um "dealer" local, num furto com agressão...<br /><br />Em "Rosetta", Émile Dequenne, a jovem protagonista, recebe em Cannes, o prémio de melhor actriz e com este "Le Gamin au Vèlo", o prémio para o melhor argumento, nos pouco divulgados (diria praticamente nada) "Prémios de Cinema Europeu" - precisam-se televisões com o mínimo de serviço público!<br /><br />A interpretação segura de Thomas Doret é, provavelmente a "chave" do filme. O "argumento" por si mesmo é, infelizmente "banal": basta estar atento aos telejornais, para ver a realidade pura e dura: é cada vez mais um assunto recorrente.<br /><br />"O Rapaz da Bicicleta" será certamente um "caso de estudo" junto de outros jovens mais ou menos "problemáticos". Cyril teve de crescer rapidamente, coisa que junto dos nossos jovens parece não acontecer. A idade da "estupidez" está a aumentar...</p>

<p>A revolta de Cyril não deixa ninguém indiferente.<br />Filme muito inquietante que me deixou com um nó no peito....</p>