Soberbo!
Pedro Brás Marques
Crescer. Viver. Sentir. Explorar os sentimentos. Celebrar a vida. «A Vida de Adèle» é sobre isto, sobre uma adolescente a entrar na maioridade, que não se deixa ficar pelas fronteiras da sua vida suburbana e antes quer experimentar tudo. Gosta de dançar, gosta de comer, gosta de sexo até porque as duas primeiras diversões são para ela, igualmente, eróticas – basta ver a quantidade de vezes que sorve esparguete e a forma lânguida como dança… Mas se o apetite de Adèle para as duas primeiras áreas de prazer é limitado – não gosta nem quer experimentar outro género de música ou outro tipo de comida além da que gosta pelo que rejeita heavy-metal e marisco, por exemplo – o mesmo já não se passa no campo amoroso. Aí, começa por se entregar a um rapaz mas rapidamente se apaixona, intensamente, por Emma. A relação é viva, carnal, profunda, sensual e magnética. As duas parecem inseparáveis. Visitam as respectivas famílias e o tempo vai passando. Até ao dia em que Emma descobre que Adèle a traía e, ainda por cima, com um rapaz. Expulsa de casa, Adèle fica emocional e fisicamente sozinha, ansiando interiormente pelo regresso da sua amada e não perdendo uma oportunidade de a encontrar… <br /> <br />Há três coisas que sobressaem neste filme: a qualidade do argumento, a realização e as interpretações de Adèle Exarchopoulos e de Léa Seydoux, mas especialmente da primeira. É o encadeamento das três que proporciona uma excelência cinematográfica rara, porque o resultado da soma das partes é muito superior aos destas isoladas. Comecemos pelo argumento. Magistral, pleno de subtilezas, desde citações visuais a romances escritos (o seu amor à primeira vista é “igual” ao do livro “La Vie de Marianne”, de Pierre de Marivaux), passando pelos incontáveis jogos de palavras (ostras/vagina, p.exp) que dão um colorido único aos diálogos. Depois, nota muito alta para a realização, onde Abdellatif Kechiche optou, e bem, pelos grandes planos e por uma montagem dinâmica, que nos faz esquecer as três horas de duração do filme. Afinal, esta é uma história de gente rica interiormente e, como tal, temos necessidade de ver os olhos para chegar à alma. Depois, a excelência: a interpretação de Adèle Exarchopoulos, para a qual faltam adjectivos… “Perfeita” será o mínimo. Sensualíssima, belíssima. A câmara não a larga e mostra-nos todos os milímetros do seu perfeito corpo. Mas onde a atenção se prende é no olhar de Adèle, nas suas expressões, na sua face onde ela nos faz acreditar na personagem. Nem é preciso que fale e explique o que sente para percebermos os seus desejos e as suas angústias - basta olhar para ela. Estamos com ela, somos ela e quando Emma lhe diz que não podem ficar juntas e que guardará carinho por ela, chorámos com ela… Tomara muito actor consagrado conseguir representar com tanta intensidade e fidedignidade aos sentimentos da personagem… <br /> <br />Assim se constrói um filme que nos faz ainda acreditar que o cinema é, efectivamente, uma forma de arte, que nos faz vibrar por dentro, que nos faz sentir vivos, que nos encanta com uma história aparentemente simples mas, ao mesmo tempo, extraordinária no seu viver intrínseco. <br /> <br />Uma nota final. É óbvio que o romance que preenche “A Vida de Adèle” é homossexual. Aliás, as cenas de intimidade entre ela e Emma são tão gráficas quanto se possa imaginar. Mas o que é extraordinário é que isso não é determinante na história. A intensidade da paixão de Adèle é tão forte que nos esquecemos desse “detalhe”, de estarmos perante uma relação lésbica, para nos concentrarmos no essencial: o amor entre dois seres humanos. Até nisso, “A Vida de Adèle” triunfa. <br />Crescer. Viver. Sentir. Explorar os sentimentos. Celebrar a vida. «A Vida de Adèle» é sobre isto, sobre uma adolescente a entrar na maioridade, que não se deixa ficar pelas fronteiras da sua vida suburbana e antes quer experimentar tudo. Gosta de dançar, gosta de comer, gosta de sexo até porque as duas primeiras diversões são para ela, igualmente, eróticas – basta ver a quantidade de vezes que sorve esparguete e a forma lânguida como dança… Mas se o apetite de Adèle para as duas primeiras áreas de prazer é limitado – não gosta nem quer experimentar outro género de música ou outro tipo de comida além da que gosta pelo que rejeita heavy-metal e marisco, por exemplo – o mesmo já não se passa no campo amoroso. Aí, começa por se entregar a um rapaz mas rapidamente se apaixona, intensamente, por Emma. A relação é viva, carnal, profunda, sensual e magnética. As duas parecem inseparáveis. Visitam as respectivas famílias e o tempo vai passando. Até ao dia em que Emma descobre que Adèle a traía e, ainda por cima, com um rapaz. Expulsa de casa, Adèle fica emocional e fisicamente sozinha, ansiando interiormente pelo regresso da sua amada e não perdendo uma oportunidade de a encontrar… Há três coisas que sobressaem neste filme: a qualidade do argumento, a realização e as interpretações de Adèle Exarchopoulos e de Léa Seydoux, mas especialmente da primeira. É o encadeamento das três que proporciona uma excelência cinematográfica rara, porque o resultado da soma das partes é muito superior aos destas isoladas. Comecemos pelo argumento. Magistral, pleno de subtilezas, desde citações visuais a romances escritos (o seu amor à primeira vista é “igual” ao do livro “La Vie de Marianne”, de Pierre de Marivaux), passando pelos incontáveis jogos de palavras (ostras/vagina, p.exp) que dão um colorido único aos diálogos. Depois, nota muito alta para a realização, onde Abdellatif Kechiche optou, e bem, pelos grandes planos e por uma montagem dinâmica, que nos faz esquecer as três horas de duração do filme. Afinal, esta é uma história de gente rica interiormente e, como tal, temos necessidade de ver os olhos para chegar à alma. Depois, a excelência: a interpretação de Adèle Exarchopoulos, para a qual faltam adjectivos… “Perfeita” será o mínimo. Sensualíssima, belíssima. A câmara não a larga e mostra-nos todos os milímetros do seu perfeito corpo. Mas onde a atenção se prende é no olhar de Adèle, nas suas expressões, na sua face onde ela nos faz acreditar na personagem. Nem é preciso que fale e explique o que sente para percebermos os seus desejos e as suas angústias - basta olhar para ela. Estamos com ela, somos ela e quando Emma lhe diz que não podem ficar juntas e que guardará carinho por ela, chorámos com ela… Tomara muito actor consagrado conseguir representar com tanta intensidade e fidedignidade aos sentimentos da personagem… Assim se constrói um filme que nos faz ainda acreditar que o cinema é, efectivamente, uma forma de arte, que nos faz vibrar por dentro, que nos faz sentir vivos, que nos encanta com uma história aparentemente simples mas, ao mesmo tempo, extraordinária no seu viver intrínseco. Uma nota final. É óbvio que o romance que preenche “A Vida de Adèle” é homossexual. Aliás, as cenas de intimidade entre ela e Emma são tão gráficas quanto se possa imaginar. Mas o que é extraordinário é que isso não é determinante na história. A intensidade da paixão de Adèle é tão forte que nos esquecemos desse “detalhe”, de estarmos perante uma relação lésbica, para nos concentrarmos no essencial: o amor entre dois seres humanos. Até nisso, “A Vida de Adèle” triunfa.
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