Uma história muito bem contada: fiquei com a sensação que o filme é uma sequência de acções curtas que se aglutinam com muito sentido no enredo da história que nos quer mostrar, num cenário gelado, correspondente à época vivida, com um italiano "das montanhas", alcance apenas de quem o domina. Bom filme!

Sobriedade da narrativa no meio rural de montanha no final da Segunda Guerra Mundial. Excelente desempenho de atores incluindo a participação de crianças. Um exemplo do bom cinema europeu que infelizmente chega a poucos espetadores.

O filme "Vermiglio" (Grande Prémio do Júri de Veneza), escrito e dirigido pela italiana Maura Delpero, é um delicado drama de época rural, formalmente austero/cru e marcadamente contemplativo (o tempo "não tem pressas" e os detalhes das banais rotinas diárias - captados de um modo algo lírico - ganham protagonismo), que nos transporta até ao microcosmos de uma aldeia tradicionalista perdida algures nos Alpes, no final da Segunda Guerra Mundial.

A narrativa pouco verbal e emocionalmente recatada (que implica um visível esfriamento do eventual potencial dramático e histórico no seio dos silêncios e das "descrições" pausadas), conta-nos a história simples do lento e sereno florescer do relacionamento amoroso entre a filha de um respeitado professor do ensino básico e um desertor do exército acolhido pela comunidade (sobre o qual nada se sabe, à excepção de que é natural da Sicília), abalado pela visita deste ultimo à sua terra natal, aquando do término da guerra. O destaque quase total desta obra poder-se-á direccionar para a beleza avassaladora dos grandes planos de bucólicas paisagens geladas, captados com câmara estática. Autênticos "quadros oitocentistas" em movimento, que assumem o estatuto de "personnagem principal".