O filme “A Grande Ambição”, do realizador Andrea Segre, é um biopic sobre o percurso político de Enrico Berlinguer (abdicando do lado voyeurista da vida privada), o carismático secretário-geral do Partido Comunista Italiano (no período compreendido entre 1972 e 1984 - data do seu falecimento abrupto), que chegou a cativar, com a sua personalidade conciliadora e dialogante, cerca 1/3 do eleitorado do país.

Fundindo uma narrativa ficcional sóbria e “palavrosa” (baseada em testemunhos e factos reais) com imagens de arquivo da época constitui-se como um fidedigno “documento” didáctico sobre a História peculiar do PCI, que desafiou os dogmas ideológicos mais ortodoxos dos seus congéneres de leste (que culminou numa contestada “geringonça” com a Democracia Cristã). Apesar da temática “sisuda”, consegue manter um ritmo fluido, sendo que apenas “peca” optar por uma exposição demasiado cronológica e esquemática.

A grandeza das ideias de Berlinguer não foi na altura suficientemente apreciada em Portugal, nós que tínhamos o PC mais oposto que se possa imaginar. No entretanto, com tantas transformações e ondas de choque que passaram pelas sociedades europeias, até podem estar a cair no esquecimento.

Mas isso seria muito injusto, pois eram grandes, importantes, e estiveram quase — quase — a serem postas à prova segundo a ideia do compromisso histórico que ele concebeu no regresso da Bulgária. Ideias que visavam manter a unidade da Itália, tão actuais num Ocidente de hoje onde cada país, à sua maneira, vive em fractura.

Grandeza que se vê também nas impressionantes multidões que ele reuniu, bem como na adesão do malogrado Aldo Moro. Elio Germano, no protagonista, faz um excelente trabalho. Mas onde creio haver uma grande distinção nesta fita, é nas imagens coevas, tão abundantes e tão bem articuladas que por vezes é difícil dizer o que é documento e o que é encenação. Foi um trabalho de carinho.

Gostei muito: realização, interpretação e enquadramento histórico, tanto quanto me lembro dos factos históricos.