"Nous sommes venus" – “nós viemos” – confronta as vagas migratórias contemporâneas de África e do Médio Oriente com a emigração portuguesa para França durante o regime salazarista, para escapar à pobreza ou à Guerra Colonial. O pressuposto é que “eles” não são em nada diferentes de “nós”: as mesmas motivações, as mesmas necessidades, o mesmo desejo de liberdade e dignidade. Imagens de arquivo e filmagens contemporâneas em Irun, “porta de entrada” em França para gerações consecutivas de imigrantes de todo o mundo, ilustram com eficácia uma narração em "off" que, baseada na própria experiência de Vieira, incorpora sabiamente testemunhos sonoros pré-existentes (e é comovente reconhecer entre eles a voz de José Mário Branco a falar da sua decisão de partir para França a salto). É um filme que não hesita em ir em busca daquilo que ficou esquecido, e a que o fio condutor da própria experiência do realizador empresta tocante pungência. Jorge Mourinha, PÚBLICO