O Que Vemos Quando Olhamos para o Céu?
Título Original
Ras vkhedavt, rodesac cas vukurebt?
Realizado por
Sinopse
Críticas dos leitores
O que vemos quando olhamos para o céu?
Fernando Oliveira
Kutaizi, Georgia, um passado recente (antes e durante o Mundial de Futebol de 2018), mas que parece “inventado” (até antecipou o titulo para a Argentina). Lisa trabalha numa farmácia e é estudante de medicina, Giorgi é jogador de futebol, tropeçam e voltam a tropeçar um no outro, apaixonam-se nesse mesmo momento, voltam e encontrar-se, combinam um encontro para o dia seguinte num café, uma esplanada junto ao rio que atravessa a cidade; mas nesse momento são também amaldiçoados, nessa noite a suas feições mudam, quando acordam não se reconhecem ao espelho e portanto estão condenados a não se reconhecerem na noite do encontro. Esquecem também tudo o que sabem sobre medicina e sobre futebol, para sobreviverem vão trabalhar ambos para o café onde tinham combinado o encontro. Vêm-se um ao outro, mas não se conhecem, o amor entre eles passa a ser uma memória angustiante. Até que o Cinema vai ao ser encontro… Esta é a história que Aleksandre Koberidze conta em “O que vemos quando olhamos para o céu?”, mas se o realizador nunca abandona os seus dois personagens, deixa que o ritmo da cidade comece a tomar conta do ritmo do filme, e o filme passa a olhar para as pessoas que lá habitam, para todos os “nadas” que definem a vida de todos nós, retrata a vida da cidade. Num filme que assim integra o documentário na ficção, ou o contrário, e que por isso “cai” para o realismo, Koberidze foge, no entanto, dele porque também foge dos diálogos, fala-se muito pouco neste filme, o que nos faz lembrar os primórdios do Cinema, e porque com a história de Lisa e Giorgi instala nele uma fuga para as histórias de encantar. Fala-nos da “mentira” que o Cinema sempre é. E pede-nos quase logo no inicio do filme para “acreditarmos” nessa mentira, pouca vezes um pedido para suspendermos a nossa descrença foi tão bonito quando a voz do realizador (é a “personagem” que mais ouvimos no filme) nos pede para fecharmos os olhos ao um primeiro sinal, e depois abrirmos ao segundo: é o momento em que Lisa e Giorgi se transformam. E se o Cinema é sempre uma “mentira” que nos contam, é o Cinema que faz que Lisa e Giorgi se “reencontrem”. E depois o realizador, a sua “personagem”, abandona-os porque na verdade eles são apenas uma das muitas histórias que a cidade tem para contar. No fim esta “personagem” pede-nos desculpa por causa da esquisitice daquilo que nos acabou de contar, da sua improbabilidade, mas também nos pergunta “porque não?”, no Cinema, e na vida, tudo é possível e tudo pode desaparecer de um momento para o outro. Um filme imenso, encantado, com uma montagem sublime. Um “boy meets girl” como há muito tempo não víamos.
(em "oceuoinfernoeodesejo.blogspot.com")
4 estrelas
José Miguel Costa
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