Descerrando os Punhos
Título Original
Unclenching the Fists
Realizado por
Elenco
Sinopse
Críticas Ípsilon
A rapariga sem futuro
Um retrato sem facilidades de uma rapariga, e de um lugar, onde o futuro é uma coisa escura e invisível.
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4 estrelas
José Miguel Costa
"Descerrando os Punhos", segunda obra da realizadora russa Kira Kovalenko, vencedora da secção Un Certain Regard do Festival de Cannes, transporta-nos até uma decrépita e agreste cidade mineira da Ossétia do Norte para acompanharmos a (não) rotina de Ada, uma jovem frágil e ambigua (nomeadamente no que concerne às oscilantes dinâmicas relacionais que estabelece com os poucos que dela conseguem aproximar-se), que sonha abandonar aquele fim de mundo (possivelmente, sem grandes perspectivas de sucesso, já que denota uma certa alienação comportamental algo indefinível), depositando para o efeito todas as esperanças na ajuda do irmão mais velho (que fugiu para a "grande cidade").
Ada é oprimida por um pai déspota (pelo qual nutre um estranho sentimento de amor/ódio) que controla todos os seus movimentos, cingindo o seu universo quase excluivamente ao esconso e negro lar (no qual é, muitas vezes, encerrada à chave) e à pequena loja de bugigangas na qual trabalha (inicialmente não sabemos o motivo de tal obsessão, pelo que "magicamos" uma série de hipóteses maléficas, até porque a realizadora vai semeando múltiplas pistas subliminares). O seu único apoio emocional, igualmente disfuncional, advém do (naif) irmão mais novo.
É um filme dramático, com contornos neo-realistas (quiçá, por todos os personagens, à excepção da protagonista e progenitor, serem actores locais não profissionais), que nos sufoca, graças a um exigimio trabalho de câmara claustrofóbico (sobretudo em espaços fechados) e à opção por uma fotografia pincelada por uma paleta de cores dark.
Descerrando os punhos
Nuno Tiago Ferreira Mascarenhas Augusto
O filme vive muito (essencialmente?) de uma abordagem bem conseguida ao impacto que a paisagem agreste tem sobre as personagens que parecem viver numa constante claustrofobia. O ambiente “natural” e sobretudo o pós-industrial contaminam as vidas. A vida parece girar à volta da estrada, onde todos passam em grande velocidade, mas curiosamente, sem ir a lado nenhum. Até ao final do filme, parece existir uma redoma invisível que não permite sair daquele espaço, cuja permissão para existir é sempre precária, com as montanhas a constrange-lo. Ada é um canário ferido e estonteado, que pulsa com a perspetiva da fuga. Este Cáucaso é um murro no estômago, nem ocidente nem oriente, uma espécie de carcaça ressequida. Milana Aguzarova tem um desempenho muito bom, entre a contenção e o delírio.
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